Depois de dispensar o canal de vendas tradicional, Prevent Senior fatura alto e os irmãos Parrillo dedicam mais tempo à música

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Por Beth Koike


Apesar de a maioria dos seus clientes terem idade entre 60 e 79 anos – faixa etária que afugenta as operadoras e seguradoras de planos de saúde – a Prevent Senior fechou o ano passado com aumento de 76% no lucro líquido que chegou a quase R$ 100 milhões. A receita de R$ 1,5 bilhão cresceu 38% em 2015.

Fundada há 20 anos pelos irmãos Eduardo e Fernando Parrillo, a Prevent Senior vai na contramão do que prega o setor de saúde em vários pontos. Além de atender apenas pessoas com mais de 49 anos, todos os planos são individuais – modalidade escassa no mercado porque as operadoras alegam que o reajuste regulado pelo governo torna o produto inviável. A Prevent Senior conta com 320 mil usuários. A maior parcela, de quase 65%, é do público com idade entre 60 e 79 anos e os outros 19% estão na faixa etária acima, que chega a 99 anos. Há ainda 230 pessoas com mais de 100 anos de idade.

Apesar dos riscos aparentes da carteira, os convênios médicos da Prevent Senior são comercializados numa faixa de preço (de R$ 462 a R$ 879,48) inferior ao praticado no mercado. Outro ponto que chama atenção é o índice de reclamações de usuários na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) abaixo da média do setor.

O desempenho da Prevent Senior é resultado de uma combinação de fatores: rede própria, rigoroso acompanhamento do paciente, plataformas com indicadores de atendimento médico e processos administrativos, operação centralizada apenas em São Paulo e experiência com um público específico.

Mais da metade dos atendimentos são realizados na rede própria. Cerca de 95% dos procedimentos médicos de alta complexidade acontecem num dos sete hospitais Sancta Maggiore do grupo; 60% das consultas médicas e 80% dos exames são realizados em clínicas e laboratórios próprios. Neste ano, a Prevent Senior pretende investir R$ 140 milhões na construção de dois hospitais, quatro pronto-atendimentos e 15 unidades de clínicas e laboratórios. Cerca de R$ 70 milhões são para obras e o restante em equipamentos médicos.

Questionado sobre os investimentos no atual cenário econômico e político, Parrillo explicou que desacelorou o andamento do projeto de expansão. "Estamos segurando os investimentos, esperando para ver o que vai acontecer no cenário econômico-político. O país está parado. Defendo que qualquer governo que venha assumir seja menos político e mais técnico", disse. Parrillo defende que as posições estratégicas em governos sejam ocupadas por pessoas com conhecimento técnico e não indicações políticas.

Sobre o setor de saúde, Parrillo joga por terra alguns conceitos considerados tendência. Ele pontua, por exemplo, que uma rede verticalizada por si só não reduz custos como se imagina. "O que faz o custo ser menor é acompanhar todo o processo, desde o pré até o pós-operatório. Uma cirurgia isolada realizada num hospital nosso não tem custo inferior em relação a um hospital de referência", disse o executivo. Para controlar esses processos, o grupo conta com 120 'guardiões' – denominação dada a um grupo de funcionários escolhidos a dedo, entre médicos e gestores, que são treinados para serem os responsáveis por determinadas áreas e processos. Um exemplo: o tempo máximo de espera no pronto-socorro não pode ser superior a 45 minutos. Há um guardião do PS que precisa garantir esse tempo.

A ideia dos guardiões é de Eduardo, o médico geriatra que ganhou o status de "guardião dos guardiões". "São esses guardiões é que cuidam de todo o processo que tanto prezamos. Essa figura pode ser um cardiologista renomado, mas que se houver algum problema, se for preciso, ele vai para o plantão da cardiologia. Isso cria mais engajamento", diz Fernando.

"Acredito que esse desempenho é resultado de uma forte gestão da saúde do seu público e não do tratamento da doença como ainda faz o setor. Com isso, há maior controle da sinistraliadde. É preciso alargar a mente", disse Afonso José de Matos, presidente da Planisa, consultoria especializada em saúde. A taxa de sinistralidade, que mede a diferença entre receita e custos médicos, na Prevent Senior foi de 68,6% – patamar bem inferior quando comparado a de outros operadoras que chega a ser superior a 80%.

Mas não é só isso. Parrillo também vai na contramão do setor e conta que descartou a figura do médico de família – apontado como tendência no setor de saúde. "Pelo menos para o meu público, não funciona. Há três anos abandonamos essa figura porque não se mostrou efetivo. Nosso paciente quer um médico especialista para resolver o problema", diz o executivo.

A família Parrillo tem a totalidade da Prevent Senior, que é comandada por Fernando e seu irmão Eduardo, que é médico geriatra. Com 47 anos, Fernando ainda não tem um plano de saúde do negócio que fundou. Seu irmão Eduardo, de 50, já é "cliente" da Prevent.

Além de fundadores da Prevent Senior, ambos são músicos e lideram uma banda de rock chamada Doctor Pheabes – a música é um hobby iniciado antes mesmo da criação da Prevent Senior há 20 anos. Mas a banda não é só um hobby de fim de semana. A Doctor Pheabes participou da abertura dos shows dos ingleses Rolling Stones no Maracanã, no Rio, e Beira Rio, em Porto Alegre, realizados no mês passado no Brasil.

A banda também está sempre em outros festivais de música, seja como a empresa médica responsável pelo evento ou como patrocinadora, como foi o caso dos Rolling Stones. "Os Rolling Stones têm muita a ver com a nossa empresa. São músicos com mais de 70 anos com muita energia, vitalidade, não são idosos. Vivemos uma transformação, uma mudança de comportamento. Hoje, não dá para dizer que uma pessoa com 65 anos é idosa", conta Fernando. Os integrantes da banda inglesa têm entre 68 e 72 anos de idade.

Os irmãos Parrillo dividem seu tempo entre a saúde e a música. O estúdio da banda fica na sede da Prevent Senior. No dia da visita da reportagem do Valor, Eduardo, com sua barba longa e jeans, dedilhava um piano de 1910 restaurado há pouco.

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Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

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