Por que um sistema de saúde de Pagador Único é inevitável

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Por, Robert B. Reich
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O melhor argumento a favor de um sistema de saúde de pagador único é a decisão recente da seguradora de saúde gigante Aetna de sair, no ano que vem, de 11 dos 15 estados onde comercializa os planos Obamacare. A decisão da Aetna segue os mesmos passos do UnitedHealth Group, a maior seguradora de saúde dos EUA, e da Humana, outro grupo entre os gigantes do setor.
 
Todos afirmam que não estão faturando o suficiente porque muitas pessoas com problemas de saúde graves estão usando o Obamacare, enquanto poucas pessoas saudáveis estão aderindo ao plano.
 
O problema não está no Obamacare. Mas na estrutura dos mercados privados de seguro de saúde – que cria incentivos poderosos para evitar pessoas doentes e atrair as saudáveis. O Obamacare está apenas deixando este problema estrutural mais evidente.
 
Em poucas palavras, quanto mais pessoas doentes e menos pessoas saudáveis uma seguradora privada com fins lucrativos atrai, menos competitivo ela é em relação a outras seguradoras que não atraem uma percentagem tão alta de pessoas com doenças em relação à percentagem de segurados saudáveis.

Mais cedo ou mais tarde, as seguradoras que aceitarem muitas pessoas doentes, em comparação com os clientes saudáveis, acabarão eliminadas do mercado.
 
Se as seguradoras não tivessem ideia de quem estava doente ou saudável no momento da adesão ao seguro (e os mantivesse segurados pagando a mesma mensalidade, mesmo depois de doentes), isso não seria um problema. Mas elas sabem – e estão desenvolvendo formas cada vez mais sofisticadas de descobrir.
 
As seguradoras de saúde gastam muito tempo, esforço e dinheiro tentando atrair clientes com alta probabilidade de se manter saudáveis (os jovens e os magros), enquanto fazem o que podem para afastar aqueles com alta probabilidade de desenvolver doenças (os mais velhos, aqueles que já apresentam problemas de saúde e os que estão acima do peso).
 
Resultado: temos o sistema de seguro de saúde mais bizarro que se possa imaginar, concebido para evitar a adesão de pessoas doentes.
 
Se isso já não fosse suficiente para convencer pessoas racionais a fazermos o que a maioria das outras nações desenvolvidas fizeram – criar um sistema de pagador único com cobertura universal, financiado pelos contribuintes – consideremos que as seguradoras de saúde gigantescos dos EUA estão agora se consolidando como conglomerados mastodontes.

A UnitedHealth já é enorme.
 
A Aetna, enquanto isso, está tentando comprar a Humana em um acordo que criará a segunda maior seguradora de saúde do país, com 33 milhões de segurados. O negócio ainda não foi autorizado pelo Departamento de Justiça.
 
As seguradoras dizem que estão se consolidando para obter economias de escala. Mas há poucas evidências de que tal crescimento geraria economia de custos.
 
Na realidade, querem se tornar ainda maiores para aumentar seu poder de barganha sobre todos aqueles com quem negociam – hospitais, médicos, empresas, governo e consumidores. Dessa forma, irão lucrar ainda mais.
 
Mas quem arca com esta maior lucratividade são os hospitais, médicos, empregadores, governo, e, finalmente, os contribuintes e os consumidores.
 
Há provas de sobra, por exemplo, de que a fusão entre seguradoras de saúde é acompanhada por aumentos nas mensalidades. Pesquisadores descobriram, por exemplo, que após a fusão da Aetna com a Prudential HealthCare, em 1999, as mensalidades aumentaram 7% a mais do que teriam aumentado caso a fusão não tivesse ocorrido.
 
O que fazer? No curto prazo, até podemos pôr alguns curativos no Obamacare, ampliando os subsídios governamentais para a compra de seguros de saúde, e garantindo que os americanos saudáveis também adquiram seguros, como a lei exige.
 
Mas estas medidas serviriam apenas como band-aids. A verdadeira escolha a ser feita é entre um oligopólio com fins lucrativos e extremamente caro, com o poder assegurado pelo mercado tanto de cobrar preços elevados, mesmo de pessoas saudáveis, como de se recusar a segurar pessoas doentes.
 
Ou então um sistema de pagador único administrado pelo governo – como é o caso em quase todas as outras economias avançadas – dedicado a reduzir as mensalidades e melhorar os cuidados de saúde para toda a população.
 
Mais cedo ou mais tarde, vamos ter que escolher.


De Carta Maior – Tradução de Clarisse Meireles
 
Robert B. Reich é professor de Políticas Públicas da Universidade da Califórnia em Berkeley e foi Secretário do Trabalho no governo Clinton.

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Emmanuel Ramos de Castro
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