Sorrindo para a crise, Grupo NotreDame Intermédica fecha o ano de 2015 no azul e desponta como a grande revelação do setor

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“Se eu for comprar um stent na Alemanha vai me custar U$ 150 dólares. Esse mesmo stent chega na beira do leito, num centro cirúrgico, para ser implantado num paciente, depois cobrado de um plano de saúde, a R$ 6 mil reais. Faz sentido, isso?”

A entrevista com o Irlau Machado Filho, presidente do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI), aconteceu na sede da operadora em dezembro (09), último mês do conturbado ano de 2015, mas deixamos para publicá-la no primeiro dia útil do ano que acaba de nascer, na esperança de que tudo o que ficou para trás seja a luz da experiência que nos guiará para um ano otimista e profícuo, como foi para o Grupo presidido pelo nosso anfitrião que recebeu um grupo de jornalistas durante um café da manhã do qual o Blog do Corretor participou.

O Bain Capital, que conta com cerca de U$ 70 bilhões em ativos sob sua gestão e mantém operações diversas em mais de 60 países com foco no setor de saúde, farma, sumos, hospitais, medicamentos, planos de saúde, centros cirúrgicos, entre outros, não encontrou dificuldades, no Brasil, ao incorporar a NotreDame e a Intermédica ao seu Grupo, mesmo durante um período em que o mercado parecia sem rumo.

O GNDI fechou o ano de 2015 no azul e, já em dezembro, conforme informou Irlau Machado, comemorou as metas batidas dos meses que ainda estavam por vir: janeiro e fevereiro. E se houver no mercado, alguma empresa que esteja reclamando de crise, é recomendável que prepare a sala de reunião, pois a operadora adquirida pelo fundo americano Bain Capital mantém o seu espectrômetro ligado 24h por dia e na primeira oportunidade certamente enviará um emissário para apresentar uma proposta de compra. O plano de novas aquisições continua acelerado e mais negociações já estão em curso e corre em segredo.

Em março, quando completará 48 anos atuando no mercado de planos de saúde, o Grupo NotreDame Intermédica, terá ultrapassado os 3,2 mil de usuários. Um verdadeiro presente de aniversário para a operadora que já conta com 10 hospitais, 70 Centros Clínicos, um plano dental que figura entre os mais importantes (o Interodonto), medicina ocupacional (o RH Vida) e mais ou menos 110 ambulatórios de empresas.

Quer mais?

No difícil ano de 2015, em que as empresas revisitaram seus custos de forma mais intensa e buscaram entender oportunidades de descomprimir margens, o GNDI conseguiu vender mais de um milhão de vidas. “O negócio está indo bem, em função do controle de custos”, garante Irlau Machado Filho. “Nós fazemos um trabalho importante no controle de gastos principalmente pela verticalização do serviço”, ressalta.

Irlau não atribui o crescimento da empresa ao fator Unimed Paulistana, porque, segundo ele, esse crescimento se deu ao longo do ano. Nesse ínterim a NotreDame/Intermédica perdeu vidas em função do desemprego, mas teria ganhado vidas novas oriundas de outras empresas; sem contar as 250 mil vidas do Santamália.


“Com a transformação da empresa,
a Intermédica ficou mais próxima do canal corretor”.

Caso o Brasil não tivesse vivido uma crise política, no ano de 2015, com ajuda da imprensa tradicional – diga-se de passagem – e resvalado para a economia, ainda assim o mercado de planos de saúde não teria escapado de sua própria crise. Isto porque no mundo inteiro a saúde está em crise. Os EUA, um dos principais seguidores da cartilha de Adam Smith, o pai do liberalismo, vivem uma crise no setor da saúde sem precedentes, enquanto o Obamacare, pedra angular da presidência do democrata Barack Obama, ainda está longe de ter assegurado o seu êxito.

A lei, votada naquele país em 2010, proíbe as seguradoras variar os valores dos planos com base no histórico clínico ou no sexo, se recusar a assegurar um paciente muito caro, ou limitar a quantidade de reembolsos anuais, práticas legais antes de a nova lei entrar em vigor e que levaram alguns pacientes com doenças graves à ruína.

Teria Obama se inspirado na Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS?

“Por mais que estejamos com uma visão bastante ácida a respeito do setor como um todo, o nosso modelo de negócio tem oferecido às empresas um respiro e acreditamos que seremos ainda procurados por uma vasta quantidade de empresas buscando exatamente isso que nós podemos oferecer: qualidade aliada a custo”

O fato é que a saúde está doente também nos países do Norte. O tempo que um cidadão leva para fazer uma ressonância magnética no Canadá, por exemplo, não causa inveja ao Serviço Único de Saúde – o nosso SUS. No Reino Unido, o custo da saúde já atingiu um percentual do PIB e dá sinais de que se tornará inviável.

No Brasil, depois que a ANS passou a atuar com mais rigor nas operadoras exigindo que estas garantam a cobertura de procedimentos complexos com custos atrelados ao dólar, teve início uma onda de quebradeiras e aos poucos, empresas, que antes eram uma referência no setor, sumiram do mapa, ou foram absorvidas por osmose.

Nesse cenário aparentemente caótico, o GNDI fez da crise a sua oportunidade e assim a Intermédica, por exemplo, que há bem pouco tempo era quase uma desconhecida para a grande maioria da população, pode agora ser vista em intervalos comerciais no horário nobre da TV, na fachada de seus hospitais próprios e dos seus Centros Clínicos, mas principalmente pelos milhares de usuários que compõem a sua carteira: um estado inteiro do Mato Grosso, cuja população, segundo o senso de 2014, ultrapassou os 3,2 mil habitantes.

Perspectivas para 2016, segundo Irlau Machado Filho

Vai ser um ano ainda de consolidação no mercado, estamos ainda trabalhando com cotas de crescimento orgânico através da instalação de novas unidades e temos ainda a ideia de fazer aquisições no ano de 2016. Nós ainda acreditamos no mercado. Por mais que estejamos com uma visão bastante ácida a respeito do setor como um todo, o nosso modelo de negócio tem oferecido às empresas um respiro e acreditamos que seremos ainda procurados por uma vasta quantidade de empresas buscando exatamente isso que nós podemos oferecer: qualidade aliada a custo. Então pretendemos dar continuidade ao plano de crescimento da empresa, a consolidação deve vir mais rapidamente do que antes, nós… o País perde cerca de 40 a 50 operadoras por ano, se você for olhar a média nos últimos anos. Talvez esse número se acelere.

Previsão de crescimento

Em crescimento de número de vidas, eu acho que nós vamos crescer em torno de 3% a 4%. Isso num cenário extremamente otimista da nossa parte. Mas a gente acredita que o País deve perder outros dois milhões de usuários ou mais, em função do desemprego.

Liberalismo do mercado

O papel do Estado é o de estabelecer parâmetros, mas oferecer ao mercado a liberdade para transacionar de forma que oferta e demanda se equilibrem. Se você tem um produto, cujo preço é muito caro, você vai limitar o seu volume de clientes. É tão simples quanto. Se este é o caso, em algum momento você vai perder mercado. E você vai ter um outro entrante no mercado que vai conseguir fazer um preço melhor e vai capturar mais clientes. Onde as regras devem existir? Para você facilitar a concorrência, mas a concorrência é leal, a concorrência é justa… por exemplo: Se eu for comprar um stent na Alemanha vai me custar U$ 150 dólares. Esse mesmo stent chega na beira do leito, num centro cirúrgico, para ser implantado num paciente, depois cobrado de um plano de saúde, a R$ 6 mil reais. Faz sentido, isso? Comprar na fábrica a U$ 150 dólares. Aqui, R$ 6 mil reais(!?) A mesma coisa, tem certas próteses que o valor da prótese gira em torno de U$ 2 mil dólares. Lá fora. Aqui, chega a valer R$ 70 mil reais no Brasil. Isso encarece a medicina. Então, regras deveriam ser estabelecidas. Olha, desculpa, no nosso país a distribuição deveria ser aberta. Você não pode ter distribuidores exclusivos; as margens, eu acho que você tem que ter, mas tem que ter algum tipo de controle competitivo em cima, não é mesmo? Vamos falar sobre o uso racional de medicamentos. Existem tabelas hoje de medicamentos no Brasil que a farmacêutica ganha se ela estabelecer um preço máximo ao consumidor. Por que? Porque o hospital vai ter um incentivo ao utilizar aquela marca versus um genérico. Que talvez tenha exatamente a mesma eficácia. Então, do ponto de vista do controle, o estado deveria estar preocupado em estabelecer regras que facilitem a remuneração adequada dos serviços e que diminuam essa prática. Se a gente conseguir fazer isso, você vai ter um sistema mais racional.

Dos reajustes hospitalares

O custo da medicina no Brasil sobe, não, necessariamente, pelo reajuste da taxa diária. Estas são negociadas muitas vezes a preço até abaixo da inflação. O que acontece no nosso País é o seguinte: Nós acabamos pagando muito pouco por aquilo que é caro e muito caro por aquilo que é barato. Taxas e diárias, esses, sim, deveriam ser melhor remunerados. Porque eles são caros. Não vale você dizer que vai querer pagar um valor numa diária hospitalar por um preço inferior ao Ibis [referência à rede de hotéis Ibis]. Por que? Porque você tem enfermagem, médico de plantão… você tem toda uma estrutura hospitalar. Se você só controlar reajustes de taxa diária, você não vai controlar a inflação hospitalar, porque essa inflação se dá exatamente nos protocolos utilizados. Os materiais e medicamentos utilizados, os insumos utilizados. Aí você pergunta: E o que você quer dizer com protocolos, Irlau? Vamos supor que você vai ao médico com uma dor de cabeça. Um protocolo seria as perguntas do médico seguidas de orientação e observação; protocolo diferente: Você chega com uma dor de cabeça. Imediatamente, ressonância magnética, tomografia e todos os exames de série sanguínea. Tudo tem um custo. Então, cada vez que eu altero o protocolo eu subo esse valor, não tem muito jeito. O preço sobe a 15%, 16%, 17% ao ano, enquanto que o volume de usuários no País tem caído. Então, é o mesmo volume de usuários, ou abaixo, no caso nosso, abaixo, com 15% mais de custo(!) Então, eu não sei se vai funcionar, a não ser que a gente comece a falar de forma muito transparente. Olha, vamos ter de pegar toda cadeia de valor e entender como é que toda a cadeia de valor recebe sua remuneração e aí, sim, começar a liberar o mercado para que ele possa, de fato, se regular.

Dos exames desnecessários

É preciso contar com o bom senso do médico, mas ele também é refém do paciente que pode não o considerar um bom médico se não pedir exames. O sistema é como um buffet em que a pessoa paga R$ 20 reais e pode comer de tudo. Às vezes a pessoa come mais do que precisa e outras vezes deixa comida no prato. O sistema de coparticipação é importantíssimo, porque tem a função também de reeducar o usuário e fazê-lo utilizar o seu plano de forma adequada.

Sobre a possível volta do Plano Pessoa Física

Nós gostaríamos muito de poder atuar no Pessoa Física, mas para isso a gente precisa de Marco Regulatório e da confiança de que esse MR seja respeitado inclusive pelo próprio Judiciário. Se isso acontecer, com o maior prazer. A nossa missão aqui é oferecer plano de saúde para o maior número de pessoas. Este é o nosso trabalho. Só que, mais uma vez, nós precisamos de previsibilidade. Caso contrário, eu não estarei sendo responsável com os outros demais clientes que eu tenho, porque vai chegar o momento que eu vou deixar o mercado. Nós gostaríamos muito(!) Precisamos somente de um Marco Regulatório que me permita compor custos, uma vez que eles existem, e que os contratos sejam respeitados. Hoje, o próprio governo passou a sentir um pouco essa dificuldade com as demandas contra o Ministério da Saúde, contra a Secretaria da Saúde, contra o SUS, para oferecer medicamentos que muitas vezes não estão disponíveis, autorizados, que não foram nem testados, como aconteceu recentemente no caso das pílulas de combate ao câncer desenvolvidas por pesquisadores da USP.

A aproximação com o Canal Corretor

A aproximação da operadora com o Canal Corretor foi uma estratégia construída por nós nesses últimos ano e meio e passamos a revisitar o Canal Corretor. Eu, particularmente, entendo que é um Canal expressivo e que tem um valor importante na gestão de planos no País e era talvez esquecido e até prescindido. E nós começamos um trabalho de fortalecimento com esse Canal que tem sido muito frutífero. As pessoas começaram a entender que a relação teria que ser diferente conosco e tem sido feito um trabalho muito bom em termos de parceria.

Sobre o produto Adesão

Nós estamos montando uma sistemática diferente em Adesão. E essa sistemática é uma que existe o compartilhamento de risco com as administradoras. Quando tivermos um entendimento melhor com as administradoras, nós pretendemos fortalecer o produto. Mas é importante entender que esse… ainda mais num momento de crise como esse, você tem no produto de adesão, a rescisão é muito maior. A pessoa às vezes pode fazer parte de uma associação, mas é ele quem está cobrindo os custos daquele plano de saúde. Reajustes mais robustos acabam transformando aquilo num processo de ante seleção. Se o produto é de mutualismo, onde vários pagam pelo uso de um (sic), aqueles vários que não estavam usando, deixam o plano e ficam só aqueles que usam. Assim, fica inviável do ponto de vista de custos. Então, nós precisamos entender melhor como nós vamos trabalhar essa gestão de risco. Pretendemos estar presente nesse mercado, mas com essa cautela. De estar presente em algo que seja sustentável.  Se existe uma comissão sendo oferecida à gestora desse plano por adesão, ora, se eu passo a perder dinheiro eu passo a compartilhar isso com o meu parceiro. Nós temos que juntos construir isso daqui para que todos sejam felizes. O cliente, o administrador e a operadora.

Para a tosse irritante do blogueiro e de Beth Koike, do Valor Econômico, que persistiu durante todo o tempo, Irlau Machado, bem-humorado, recomendou mel com limão e nada de pneumologista.

Sim, em 2015, o ano da crise superdimensionada pela imprensa tradicional, foi o ano em que o Grupo NotreDame Intermédica vendeu lenços.

E comprou empresas com investimento próprio.

Veja as fotos do encontro, na Galeria de Fotos

A partir desta segunda-feira (04), o Blog do Corretor, que não mudou sua rotina no período de Festas, fará uma pequena pausa em suas atividades. Apenas o tempo necessário para um breve descanso. Na próxima terça-feira (12), estaremos de volta. Sempre otimistas, acreditando que amanhã será sempre melhor do que hoje. E que em 2016 teremos muitas notícias boas para publicar.  Como esta do GNDI.

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JORNALISTA

Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

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