Fragmentação do cuidado, foco em volume e ausência de indicadores dificultam a adoção de modelos baseados em valor na saúde bucal. Proposta será apresentada em agosto com foco em desfechos, experiência do paciente e aplicabilidade clínica
A odontologia suplementar no Brasil ainda opera sob um modelo fragmentado, com foco no volume de procedimentos e baixa integração entre operadoras, prestadores e pacientes. A ausência de indicadores estruturados dificulta a adoção de abordagens centradas em desfechos e experiência do paciente relacionados aos seus custos, pilares da Saúde Baseada em Valor (VBHC).
Apesar de o tema ganhar força em outras áreas da saúde, a odontologia suplementar está somente começando essa jornada. Segundo Fabio Massaharu Nogi, Superintendente de Inovação e Odontologia na Seguros Unimed, o modelo vigente “ainda recompensa volume, não valor”. Para ele, é necessário “engajar todos os atores em um novo propósito, que vá além da entrega de procedimentos e coloque o bem-estar e a experiência do paciente no centro”.
Esse engajamento passa por indicadores como os do AOHSS (Adult Oral Health Standard Set), que reúnem métricas clínicas e autorrelatadas (PROMs), incluindo dor, estética e impacto psicossocial. Também são citadas ferramentas como o OHIP e o OIDP, voltadas à qualidade de vida relacionada à saúde bucal. No entanto, Nogi reconhece que o uso ainda é incipiente no Brasil.
“Esses indicadores captam o impacto real das condições bucais na vida das pessoas, indo além do aspecto clínico e incluindo dimensões emocionais e sociais. Sem essa escuta estruturada, o paciente tende a não se engajar. Sem perceber valor, nenhum dos dois irá se engajar”, enfatiza o executivo.
Para o Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (IBRAVS), que atua com validação de indicadores e apoio técnico à implantação de modelos baseados em valor, a odontologia suplementar precisa superar os entraves culturais e estruturais que a mantém distante dessa agenda.
“A transformação da odontologia exige métrica, método e governança. Só assim será possível conectar o cuidado bucal aos demais desfechos em saúde e garantir que o paciente esteja, de fato, no centro da jornada”, explica Cesar Abicalaffe, presidente do IBRAVS.
Buscando avançar nesse cenário, será apresentada em agosto uma proposta de modelo de avaliação e pagamento por valor para a odontologia suplementar, com foco inicial em periodontologia — condição altamente prevalente e associada a outras doenças, como o diabetes. Para a avaliação a proposta combina desfechos clínicos, medidas autorrelatadas (PROMs e PREMs), além de considerar o impacto da estrutura e processos nos fluxos assistenciais, medidos pelo EVS – Escore de Valor em Saúde que também serve como referência para pagamentos por Performance (FFS + Valor).
O modelo, segundo Nogi, parte da premissa de que pacientes com diferentes graus de periodontite devem ter planos de cuidado distintos, com metas específicas e conexões com outras condições. Para isso, as ferramentas precisam ser adaptadas ao contexto brasileiro — com linguagem acessível, aplicabilidade local e integração ao cuidado.
A proposta será detalhada por Fabio Nogi durante o CLAVS’25 – Congresso Latino-Americano de Valor em Saúde, que acontece nos dias 25 e 26 de agosto de 2025, no Rio de Janeiro. O evento marca o retorno do principal congresso sobre VBHC do país e reunirá lideranças nacionais e internacionais para discutir estratégias que viabilizem a adoção de modelos de remuneração baseados em valor em larga escala.
SERVIÇO
CLAVS’25 – Congresso Latino-Americano de Valor em Saúde
25 e 26 de agosto de 2025
Hotel Prodigy Santos Dumont by Wish – Rio de Janeiro/RJ
Inscrições: Sympla