Os cinco Mosqueteiros da ilusão digital: Por que a promessa de 2 minutos pode custar uma vida inteira

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Por Blog do Corretor | Da Redação

SÃO PAULO – 52,8 milhões de brasileiros com planos de saúde. 1.135 hospitais credenciados. Números impressionantes, certo? Errado! Catastroficamente insuficiente. Em um mercado tão complexo e vital quanto o da saúde suplementar, a velocidade prometida por algumas plataformas digitais que prometem substituir o corretor, não é sinônimo de eficiência, mas sim de um risco velado que pode comprometer a segurança e o bem-estar de milhões de famílias.

A recente matéria da Revista Veja, sobre a Click Planos, apresentando-a como o “primeiro marketplace de planos de saúde da América Latina” e prometendo a contratação em “dois minutos”, acendeu um alerta vermelho para quem realmente entende as nuances e as responsabilidades do setor. A versão de que a tecnologia “encurta o caminho entre o desejo de proteção e a contratação do plano” é sedutora, mas esconde uma verdade inconveniente: a saúde não é um produto de prateleira para ser escolhido por um algoritmo em segundos.

A Click Planos alardeia a conexão entre consumidores e operadoras com base em 67 operadoras, 1.039 planos e 1.135 hospitais credenciados. Para o leigo, esses dados podem soar como um avanço tecnológico. Para qualquer corretor experiente, no entanto, esses números revelam uma amostra mínima e perigosamente limitada da realidade do setor.

O mercado de saúde suplementar no Brasil é um ecossistema vastíssimo, com centenas de operadoras, milhares de produtos e uma rede credenciada que varia drasticamente de uma região para outra, de um perfil de cliente para outro. Reduzir essa complexidade a pouco mais de mil opções de planos é ignorar a diversidade de necessidades e a profundidade da oferta existente. Um corretor qualificado sabe que, para encontrar a solução ideal, é preciso cotar e comparar opções, considerando nuances que uma inteligência artificial superficial jamais capturaria. A promessa de “clareza, comparação e economia” em dois minutos é, na melhor das hipóteses, uma simplificação perigosa.

Nossa investigação, baseada em simulações e testes práticos com plataformas que prometem essa “revolução”, revelou erros crassos nas cotações básicas apresentadas. A tão propalada “inteligência artificial para comparar preços, rede credenciada e cobertura” tropeça na realidade quando se depara com a complexidade de uma negociação em que a participação do corretor é fundamental. .

A IA pode ser um excelente algoritmo de busca, mas não substitui a experiência humana que entende as entrelinhas de um contrato, as políticas de aceitação de risco e a dinâmica de negociação que só um profissional do setor domina. A tecnologia pode encurtar o caminho, mas, neste caso, não garante que o destino seja o correto ou o mais seguro.

A contratação em “dois minutos” é sedutora, mas o que acontece nos 2.000 minutos seguintes? E nos 20.000? Quem o cliente procura quando precisa de um reembolso? Quem o orienta sobre a portabilidade de carências ou sobre a melhor forma de utilizar o plano para otimizar o custo-benefício?

A tecnologia, por mais avançada que seja, não oferece o ombro amigo, a escuta ativa e a expertise para navegar pelas burocracias e pelos conflitos que, inevitavelmente, surgem na jornada de um beneficiário de plano de saúde. O risco invisível é o abandono pós-venda, a solidão do consumidor diante de um sistema complexo e, muitas vezes, impessoal. A promessa de conveniência se transforma em um labirinto sem saída quando o problema real aparece.

Há uma insurtech no mercado, por exemplo, que surgiu com a promessa de agilizar o processo da venda. Seus fundadores, que vêm do mercado, levaram um pouco mais de um ano compilando informações e treinando uma IA, não para substituir o corretor, mas para ajudá-lo a vender.

O corretor de planos de saúde não é um obstáculo à modernidade, mas sim um pilar fundamental de proteção e segurança para o consumidor. Ele é o defensor do cliente, não da operadora. Seu valor reside na combinação insubstituível de conhecimento técnico aprofundado sobre legislação, produtos, redes e políticas das operadoras, com um relacionamento humanizado e personalizado.

É o corretor quem negocia, quem esclarece dúvidas, quem advoga em nome do cliente e quem garante que a escolha feita hoje não se torne um pesadelo amanhã. A “economia” prometida por um clique rápido é, muitas vezes, uma falsa economia, que se traduz em dores de cabeça e custos muito maiores no futuro. A negociação de um corretor experiente, que conhece as margens e as flexibilidades do mercado, pode gerar uma economia REAL e sustentável para o cliente, além de uma segurança jurídica e assistencial inestimável. Mais do que um vendedor, o corretor é um consultor, um guardião, e sua responsabilidade legal pelo cliente é um diferencial que nenhuma plataforma digital pode replicar.

Para os corretores tradicionais, essa onda de “digitalização simplificada” não deve ser vista como uma ameaça existencial, mas sim como uma oportunidade de ouro para se diferenciar. É o momento de reafirmar o valor inegociável da consultoria especializada. Invistam em conhecimento, aprofundem-se nas complexidades que a IA não alcança, especializem-se em nichos, demonstrem o resultado, não a velocidade.

Mostrem que a verdadeira economia e segurança vêm da análise criteriosa, da negociação inteligente e do suporte contínuo. Unam-se, troquem experiências, fortaleçam a comunidade. A voz do corretor precisa ser ouvida, não como um lamento, mas como um grito de alerta e de valorização de uma profissão essencial.

Neste cenário de promessas digitais e riscos ocultos, minha voz, como jornalista especializado em saúde suplementar, se une à de vocês. Entendo a sedução da tecnologia, mas defendo, com veemência, o lado que serve verdadeiramente o cliente: a expertise humana, a consultoria personalizada e a segurança que só um corretor de planos de saúde pode oferecer. Não se trata de ser contra o avanço, mas de questionar o avanço irresponsável. A saúde não é um produto de prateleira para ser escolhido em dois minutos. É um direito, uma necessidade, e merece a atenção e o cuidado de quem realmente entende do assunto.

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