Por Blog do Corretor | Da Redação | Crítica
A nova fase da Amil, sob a batuta estratégica de José Seripieri Junior, tem sido um case de eficiência operacional. Ver a gigante enxugar a máquina, cortar privilégios corporativos e reagir com números animadores é o que o mercado de saúde suplementar esperava. Contudo, se a gestão interna é de “primeira linha”, a nova peça publicitária de 1 minuto e 52 segundos parece ter sido resgatada de um arquivo de teledramaturgia mexicana dos anos 80, desconectando-se perigosamente da realidade prática e da imagem de sobriedade que o novo comando imprime.
O abismo entre o roteiro e a atuação
O comercial, que começa informando que é “baseado em uma história real”, tenta vender emoção através do excesso, mas acaba entregando um material caricato. A escolha da trilha sonora — “Pai”, de Fábio Jr. — é o primeiro indício de uma estratégia que apela para o óbvio e para o sentimentalismo barato. O problema não é a música em si, mas como ela tenta sustentar uma cena que o elenco não consegue carregar.
A interpretação do protagonista é, como bem observado, sôfrega. Em uma tentativa de transmitir angústia, o ator entrega uma “careta de choro” que beira o cômico, falhando em criar empatia com o telespectador. O ponto alto do absurdo narrativo reside na cena do bilhete. O descarte (ou queda) da carta da neta no corredor do hospital não apenas denota um descuido de direção, mas passa uma imagem de falta de educação que conflita com o ambiente asséptico e organizado que a operadora quer vender.
A publicidade em saúde exige um equilíbrio delicado entre esperança e realismo. Ao apresentar um paciente em estado terminal que, após a leitura de um bilhete, apresenta uma recuperação instantânea e “milagrosa”, a Amil flerta com o surrealismo.
A contradição técnica: Em um minuto a mãe afirma que “criança não entra”, uma regra comum de UTI e protocolos de infecção hospitalar; no minuto seguinte, a regra é quebrada por um “desejo” do paciente, com a anuência de uma equipe médica com “carinhas de anjo”.
O distanciamento da realidade: Médicos e enfermeiros são retratados de forma quase angelical, uma estética que se distancia do cotidiano exaustivo e técnico das unidades de terapia intensiva, perdendo a oportunidade de gerar uma conexão real com quem vive o dia a dia dos hospitais.
O paradoxo do idoso na saúde suplementar
Talvez a crítica mais contundente e irônica dessa peça seja a escolha do protagonista: um idoso moribundo. Para quem cobre o mercado de seguros, é impossível não notar a hipocrisia mercadológica. Enquanto a publicidade usa a fragilidade do idoso para arrancar lágrimas e vender uma imagem de acolhimento, na prática do setor, essa mesma faixa etária enfrenta as maiores barreiras de entrada, reajustes por sinistralidade agressivos e uma dificuldade hercúlea para contratar novos planos.
Relacionar esse comercial a um quadro de Salvador Dalí é uma definição precisa. O vídeo é uma peça de estética bem-produzida, mas de lógica derretida. É uma tentativa de humanização que, por ser tão exagerada e mal interpretada, acaba se tornando desumana por ser inacreditável.
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