Modelo se apresenta essencial para operadoras de saúde e empresas que buscam unir eficiência, personalização como alternativa para ampliar o acesso, antecipar diagnósticos e garantir cuidado contínuo
Por Allcare | Lúcia Guimarães
SÃO PAULO – O câncer de mama continua sendo o tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil, e o desafio vai muito além do diagnóstico precoce. Entre 2018 e 2023, foram registrados mais de 319 mil novos casos e 173 mil óbitos, segundo o Ministério da Saúde. É de se notar que quase 40% dos diagnósticos ocorrem em estágio avançado, evidenciando um sistema que ainda falha em transformar conhecimento em prevenção efetiva.
A recente decisão do governo federal de ampliar a faixa etária do rastreamento por mamografia para mulheres de 50 a 74 anos, e permitir o exame mediante indicação médica entre 40 e 49, é um avanço. Mas os números mostram que o câncer de mama está ultrapassando fronteiras etárias: mais de 108 mil brasileiras com menos de 50 anos e 53 mil com mais de 70 receberam o diagnóstico no mesmo período. “Esses dados revelam que a doença não respeita limites rígidos de idade e que precisamos rever protocolos e ampliar o olhar preventivo”, afirma a médica Thaís Cunha Dias Ferreira, especialista em APS digital e Coordenadora Médica da Dr.Online.
Para ela, o desafio central é construir um sistema de saúde que atue antes do problema aparecer e que não perca a mulher de vista após o exame. “A verdadeira revolução está em acompanhar a paciente de forma contínua, lembrando, orientando e acolhendo. A telemedicina permite exatamente manter o vínculo e transformar a prevenção em rotina”, explica.
Durante a pandemia, esse formato mostrou sua capacidade de escala e eficácia clínica. Agora, amadurecido, o modelo se mostra essencial para operadoras de saúde e empresas que buscam unir eficiência, personalização e prevenção estruturada. A adoção dessa abordagem exige investimento em tecnologia, interoperabilidade e capacitação das equipes, mas os retornos são tangíveis. Além de reduzir internações e terapias de alto custo, melhora a experiência das pacientes e a fidelização ao cuidado. “É uma estratégia que se paga no tempo, não só financeiramente, mas em vidas preservadas”, afirma a Dra. Thaís.
Com consultas remotas mediadas por médicos de família, a atenção primária digital oferece um radar permanente para sinais precoces. Mais do que triagem, trata-se de um modelo que valoriza o acompanhamento longitudinal e o vínculo. E, sobretudo, amplia o alcance da prevenção, permitindo que mulheres em regiões com baixa cobertura médica tenham acesso a orientação e cuidado qualificado, sem depender da presença física de um especialista. “A telemedicina reduz distâncias e democratiza o cuidado. Ela leva informação, acolhimento e diagnóstico a quem antes estava fora do radar”, acrescenta a médica.
O potencial da atenção primária digital também se estende ao tratamento e à reabilitação. Ao integrar diferentes especialidades — oncologia, nutrição, psicologia — em uma mesma plataforma, a telemedicina encurta o tempo entre o diagnóstico e o início da terapia, garante acompanhamento pós-tratamento e oferece suporte emocional contínuo.
De acordo com o INCA, o Brasil deverá registrar em média 73 mil novos casos de câncer de mama em 2025. A dimensão desse desafio exige ações permanentes. “Campanhas como o outubro Rosa cumprem um papel essencial de mobilização, mas o que realmente pode mudar a curva da doença é uma arquitetura de cuidado que antecipe, acompanhe e sustente o vínculo com cada paciente”, reflete Dra. Thaís.
A integração entre telemedicina e atenção primária representa, portanto, uma nova fronteira no enfrentamento ao câncer de mama. “Trata-se de m modelo que combina tecnologia, equidade e humanidade, rompendo o ciclo da reação tardia e inaugurando uma era em que a prevenção acontece todos os dias e em todos os lugares”, conclui.







