Durante a pandemia, o foco foi conhecer a doença e tratar os pacientes com Covid. A expectativa com a redução dos casos, era voltar ao fluxo de atendimentos de 2019 e gerenciar a perda de rentabilidade e caixa. Porém, o ano de 2023 está mais complexo e competitivo no que se refere a sustentabilidade do sistema de saúde e toda sua cadeia produtiva.
Se durante os anos de pandemia, muitas pessoas deixaram de buscar o sistema de saúde para tratamentos crônicos ou outros procedimentos. Agora, essa demanda represada chega com força total nas instituições.
Outro agravante é o crescimento demográfico e epidemiológico que traz implicações para o cenário da saúde do Brasil. A quantidade de pessoas com mais de 60 anos vem crescendo e deve aumentar nos próximos anos. São os pacientes que mais internam, ficam mais tempo no hospital, tem mais comorbidades e cuja conta hospitalar normalmente é maior.
Expectativa de envelhecimento da população | Fonte: IBGE
Segundo Paloma Rubinato, head para saúde do Lean Institute Brasil, entidade que difunde a mentalidade lean no país, isso quer dizer que a demanda vai dobrar de tamanho. “Se nada for feito, a cada ano a situação vai se agravar e vamos viver uma superlotação no sistema de saúde brasileiro. As instituições privadas que atendem os pacientes que possuem planos de saúde precisarão ser ampliadas e o Sistema Único de Saúde viverá um enorme desafio”, afirma.
De acordo com estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2050, 21,9% da população brasileira terá 65 anos ou mais, enquanto em 2017 esse percentual era de 8,9%. O Brasil precisa antecipar-se às necessidades futuras de cuidados de longa duração da população que passa por um processo de envelhecimento.
“Outros países já passam por isso e vamos viver o mesmo problema, porém os investimentos deles em saúde é muito superior ao nosso”, destaca Paloma Rubinato.
Ainda de acordo com a OCDE, o Brasil dedicou uma menor parcela de seu orçamento público para a saúde (10,5%) em 2019, ficando bem abaixo da média de 15,3% de outros países. Ainda projeta-se que os gastos em saúde no Brasil aumentarão para 12,6% do PIB em 2040.
Além disso, ainda existem outros desafios de gestão, tais como a alta da inflação, aumento do custo da folha de pagamento, alta sinistralidade das operadoras com dificuldade de repasse da tabela para os hospitais e o piso de enfermagem em pauta no governo.
O sistema de saúde brasileiro precisará atender a demanda de uma pirâmide etária de países desenvolvidos, com uma riqueza nacional não compatível com a necessidade do cuidado da população.
Com mais de 30 anos de experiência no setor de saúde e passagens por grandes hospitais, CEO do Hospital do Coração, Fernando Andreatta Torelly, no evento Lea Summit realizado em junho de 2023, afirma que o segmento de saúde está passando por uma “nova pandemia”.
“A indústria da saúde do Brasil tem capacidade de atender nossa população, com uma política estruturante, com o Lean podemos fazer uma reforma sanitária no Brasil, pois ela é uma metodologia estratégica para melhorar a eficiência dos hospitais e do sistema como um todo”, conclui Fernando Andreatta Torelly.
Para a head de saúde do Lean Institute Brasil, se o país não mudar radicalmente o modelo de cuidado focando em prevenção, linhas de cuidado, cuidado coordenado e eficiência não terá a riqueza necessária para dar conta da sobrecarga de atendimento.
“As instituições precisam urgentemente rever seus processos e capacitar suas equipes para atender com qualidade e segurança, bem como manterem as finanças em ordem, e o lean vem se apresentando como uma alternativa eficiente. Precisamos minimizar os impactos de todas essas tendências, entregar valor com menos desperdícios e criar um sistema eficiente de gestão e cuidado”, conclui.