Por Michel Ank, CEO do BUME*
Usar um ditado popular pode não ser melhor maneira de sustentar uma argumentação, mas, asseguro que o emprego do dito é justificado. A expressão em questão afirma que "tudo o que você faz, um dia volta pra você". Falada abertamente pelos mais velhos e até mesmo na letra do Legião Urbana, a frase tem aplicação diversa e pode ser adaptada para o mundo do empreendedorismo.
Seja você autônomo, colaborador ou líder de uma empresa, considero crucial o desenvolvimento do "conceito bumerangue". A ideia pode ser resgatada nas palavras de Jeffrey Keller, que diz: "Você pode dar-se conta ou não, mas você está arremessando um bumerangue hoje. Na vida, você joga bumerangues diariamente. Esses bumerangues têm a forma das ações e dos comportamentos que você atira ao mundo, e que vão voltar para você mais tarde, muitas vezes com seus efeitos multiplicados".
Apesar da ideia de que tudo de bom que é entregue trará um retorno positivo ser óbvia, ela acaba se perdendo nas práticas do cotidiano. Quando o conceito é aplicado, é possível evitar problemas futuros e até mesmo saber lidar com os reveses que surgem. Sendo assim, caso a empresa esteja passando por uma situação complicada, o "efeito bumerangue" pode ser útil para encontrar a raiz daquele obstáculo. Apesar de toda a estratégia e organização, é comum que, os negócios não percebam que determinado contratempo é resultado de um bumerangue lançado.
Com esse pensamento, empresas, gestores e colaboradores se responsabilizam pelos seus atos e enxergam o seu papel na situação. Assim, quando surge um porém, a "culpa" não será lançada de um lado para o outro ou atirada para algo abstrato como destino ou intervenção divina. Ressalto, contudo, que a tal reflexão não deve se tornar um linchamento corporativo. Não se trata de uma enunciação de culpa e sim, de responsabilização de todos os componentes da estratégia.
Outro ponto que ressalto é relativo ao tempo que leva para que o bumerangue comece a "voltar para a empresa", digamos assim. Resultados imediatos e relevantes são apreciados, mas no conceito apresentado, é necessário pensar à longo prazo. Por exemplo, se um negócio almeja se tornar o maior do seu ramo, a instituição lançará bumerangues estratégicos para alcançar essa meta. Cada ação pode levar determinado tempo e muito provavelmente, não será um retorno imediato.
Sendo assim, é possível concluir que o efeito pode ser um complemento benéfico para a empresa como um todo. Pode-se aplicá-lo na essência da cultura organizacional, nas estratégias que serão empregadas e na solução de adversidades que surgem. É inusitado pensar que uma frase tão conhecida poderia se tornar um diferencial estratégico. Por fim, gostaria de terminar o texto com uma pergunta enigmática e quase motivacional: quais bumerangues você está lançando?
Michel Ank (34 anos) é CEO e fundador do Bume, plataforma de gestão, marketing e vendas no Instagram. Ao longo de sua carreira, o empreendedor se especializou na área de TI e atuou durante seis anos na Vale. Apesar disso, sempre empreendeu em projetos paralelos aos trabalhos formais que exerceu. Por conta de tais iniciativas, Michel enxergou a oportun idade de criar um negócio voltado para o Instagram. Em 2016, ele, ao lado do sócio Samuel Liberato, tirou o Bume do papel e se dedicou no desenvolvimento e aperfeiçoamento da plataforma. Com o crescimento da empresa, Michel se desligou do cargo de Arquiteto de Integração na Vale em meados de 2018. O empreendedor é formado em Sistemas de Informação, cursou MBA de Project Management na Fundação Getúlio Vargas e já passou por imersão em empreendedorismo na Babson Colleg.