Os planos de saúde corporativos, ou seja, aqueles concedidos pelas empresas a seus funcionários, devem sofrer um reajuste entre 20% e 30% neste ano. O aumento está provocando uma negociação acirrada entre empresas contratantes, que têm o convênio médico como a segunda maior despesa administrativa na área de recursos humanos, e as operadoras e seguradoras de saúde, cujas receitas financeiras têm encolhido, enquanto os gastos com médicos, hospitais e laboratórios sobem.
O reajuste pretendido pelas operadoras e seguradoras é dividido em duas partes: a “inflação médica” (a variação de honorários médicos, entre outros custos) e a taxa de sinistralidade das empresas, que mede a frequência de uso do convênio médico pelo cliente. Especialistas estimam que neste ano o reajuste da sinistralidade varia de 10% a 15%. O percentual aumenta conforme a idade média dos funcionários – normalmente, quanto mais velha é a folha de pagamento, mais o plano de saúde tende a ser usado.
Neste ano, a “inflação médica” bateu em 13,95% – a maior dos últimos cinco anos, segundo dados de oito operadoras levantados pela Aon Hewitt, consultoria especializada em gestão de benefícios, como planos de saúde. A inflação do setor de saúde mede os custos de honorários de médicos, hospitais, laboratórios e de insumos médicos e, normalmente, é superior a índices como IGP-M e IPCA.
A alta na “inflação médica” deste ano foi consequência de três fatores. Um deles foi o aumento dos honorários dos médicos. Estes, nos últimos meses, fizeram várias paralisações, em protesto ao valor pago pelos convênios, que em casos extremos chegava a R$ 25 por consulta, segundo a Associação Paulista de Medicina (APM).
“A consulta médica passou de um valor médio de R$ 42 para R$ 56 [em 2011], levando-se em consideração operadoras de maior porte. Esse reajuste trará um impacto de até 3,5% no custo dos planos de saúde”, observou Humberto Torloni, vice-presidente da área de saúde e benefícios da Aon Hewitt, que administra uma carteira de 1,6 milhão de clientes. O custo das internações em hospitais também teve elevação expressiva, de quase 36% nos dois últimos anos.
Outro ponto atípico na “inflação médica” deste ano foi a alta do dólar, que impactou a compra de materiais e insumos, muitos deles importados. Essa valorização da moeda americana perante o real gerou um incremento de cerca de 4% na inflação do setor.
O terceiro fator que elevou os custos das operadoras foi a inclusão de procedimentos médicos de alto custo (cirurgias video assistidas, feitas com microcâmeras, por exemplo), como itens obrigatórios a serem cobertos pelas empresas de convênio médico. Segundo a Aon, o impacto desses procedimentos mais modernos foi de cerca de 1,38%.
Entre as oito operadoras consultadas pela Aon, o maior reajuste está sendo pedido pela Care Plus, plano de saúde voltado ao público de alta renda. Sua “inflação médica” é de 16,47%. Parte dessa alta parece indicar uma reposição dos últimos cinco anos, período em que a Care Plus promoveu os menores reajustes do setor. No ano passado, o fundador da Care Plus, Roberto Laganá Pinto, retomou a função de presidente executivo, após quatro anos no conselho.
Nos últimos anos, muitas operadoras de planos de saúde baixaram seus preços para ganhar mercado. “Notadamente a estratégia por market share foi uma estratégia suicida”, disse Valter Hime, diretor de seguros de pessoas e benefícios da Generali Brasil Seguros. “Hoje o modelo de negócio não atende a ninguém. Usuários, prestadores, empresas, operadoras, médicos – todos reclamam. Enfim, o modelo está equivocado”, complementou Hime.
A alta dos custos não é o único motivo que tem levado à queda de braço entre os convênios médicos e as empresas que concedem planos de saúde a seus funcionários.
Operadoras de planos de saúde estão propondo reajustes entre 20% e 30% a seus clientes corporativos também devido às perdas de receita financeira ocasionadas pela queda na taxa de juros.
As empresas de planos de saúde são obrigadas a ter provisões para casos de falência e aplicam essas reservas no mercado finananceiro. “O ganho financeiro ajudava a compor o resultado. Mas agora, com esse cenário, as operadoras querem mais do que nunca repassar a inflação”, disse Marcelo Borges, vice-presidente de recursos da Aon Hewitt.
No segundo trimestre, a receita financeira da Amil caiu R$ 10 milhões em relação a um ano antes. A SulAmérica teve perdas financeiras que somaram quase R$ 40 milhões e ainda teve um aumento expressivo na sinistralidade, na área de saúde, que aumentou de 83,6% para 88,2% no segundo trimestre. “O reajuste vai refletir o nosso custo anterior. Mas os reajustes levam em consideração o perfil de cada empresa”, explicou Gabriel Portella, vice-presidente da área de saúde da SulAmérica.
“Antes, as operadoras eram um pouco mais flexíveis com a reposição da inflação. Hoje, as empresas que têm uma carteira com sinistro alto não estão conseguindo negociar”, afirmou Marcio Tosi, superintendente de benefícios da Mercer Marsh, consultoria de gestão de benefícios com uma carteira de 600 mil clientes.
Além da inflação médica, o reajuste das apólices de planos de saúde corporativos é calculado também com base na sinistralidade da carteira. Isso quer dizer que as empresas cujos funcionários usaram demasiadamente o plano de saúde tendem a pagar um reajuste maior. Nos últimos dois anos, por exemplo, houve um aumento de 20% no volume de exames realizados.
Para evitar reajustes elevados na apólice, muitas empresas adotam a coparticipação, ou seja, os empregados pagam uma parte da mensalidade ou das consultas e procedimentos médicos, o que reduz a frequência de uso.
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Fonte: Valor