Dano moral no trabalho em home office: é possível?

Foto de Moderador

Moderador

Por Bruno Barchi Muniz | Artigo | LBM Advogados

O home office se tornou comum na vida de muitos trabalhadores no Brasil e no mundo, especialmente depois da pandemia. Trabalhar de casa, mesmo que apenas em alguns dias da semana, sob regime híbrido (teletrabalho alternado com trabalho presencial) trouxe mais autonomia e flexibilidade, a ponto de que muitos não conseguem imaginar como trabalharam de forma diferente antes disso.

Pesquisa recente verificou que 79% dos trabalhadores entrevistados prefeririam pedir demissão a ter que voltar para uma jornada integralmente presencial.

Dados de 2024 recentemente divulgados revelaram que 8,5 milhões de brasileiros pediram demissão por não concordarem com o fim de trabalho antes havido sob home office.

A mesma pesquisa concluiu que o motivo pela preferência pelo home office na metade dos casos toca dificuldades de deslocamento e trânsito, dificuldades com a rigidez da jornada e necessidade de cuidar de filhos ou parentes.

O teletrabalho, de fato, gera uma melhor fluidez no dia a dia, embora a esmagadora maioria ainda considere importante pelo menos um dia de trabalho presencial (mais de 90% dos entrevistados).

Por fim, apenas 8% dos que participaram da pesquisa preferiam o trabalho totalmente presencial.

O home office é, portanto, uma realidade que provavelmente não voltará atrás e gera algumas mudanças na dinâmica de trabalho não só pelos motivos óbvios, mas pelas adaptações dos institutos do Direito do Trabalho a essa modalidade que se não é, provavelmente será a dominante, sobretudo no setor de serviços.

E aí nascem as novas preocupações — entre elas, o risco de abusos em ambiente de trabalho, que podem levar ao chamado dano moral.

O que antes era mais fácil de identificar (ainda que difícil de provar) no ambiente presencial — como assédio moral, pressões indevidas, humilhações públicas ou excesso de jornada — agora pode acontecer de forma silenciosa e mais difícil de perceber. A comunicação por e-mails, mensagens e reuniões virtuais, por exemplo, pode esconder condutas abusivas ou até piorar certas situações.

Um problema recorrente no home office é a invasão da vida pessoal do trabalhador, quando a empresa exige respostas fora do expediente, cobra tarefas em horários inadequados ou monitora exageradamente o que o funcionário faz. Nesses casos, pode haver violação do direito à privacidade e ao descanso, que pode afetar diretamente a saúde mental do profissional.

Outro tipo de assédio é o chamado “ócio forçado”, quando a pessoa é colocada “de escanteio”, sem que lhe sejam designadas tarefas ou atividades, com o intuito de prejudica-la no ambiente de trabalho (ainda que virtual), forçando-a à demissão e frustrando expectativas profissionais legítimas.

Também é importante ficar atento ao assédio moral virtual. Muitas pessoas se sentem mais livres para fazer, à distância, comentários que não fariam face a face.

Por isso, comentários ofensivos durante videoconferências, mensagens desrespeitosas em grupos de trabalho ou a exclusão deliberada de alguém das decisões de sua alçada podem parecer pequenas atitudes isoladas, mas, somadas, podem causar desgaste emocional e sofrimento.

A dificuldade de “desligar” do trabalho em casa é outro ponto de alerta. Sem uma separação clara entre o ambiente doméstico e o profissional, muitos acabam trabalhando mais do que o normal, acumulando tarefas e enfrentando cansaço extremo. Em alguns casos, isso leva até ao burnout — um esgotamento que precisa ser levado a sério.

Do outro lado, para a empresa esses são pontos de risco e formação de passivo muito relevantes e precisam ser regrados adequadamente, sendo recomendável um compliance trabalhista efetivo.

Enfim, situações que causam dor emocional, humilhação ou prejuízos à saúde do trabalhador podem gerar dano moral. E sim, esse tipo de dano pode ser levado à Justiça, com pedido de indenização.

As empresas devem prover regras claras sobre o teletrabalho, respeitar o tempo de descanso dos funcionários e criar canais seguros para denúncias. O ambiente de trabalho à distância deve ser salutar e respeitoso tanto quanto aquele que se tem presencialmente.

Como dissemos antes, a percepção de situações ilícitas no trabalho em home office talvez seja mais difícil de se verificar, mas as provas tendem a ser mais fáceis, já que passam por registros em e-mails, gravações de conferências etc., demandando adaptação da alta direção e dos responsáveis da área trabalhista.

Bruno Barchi Muniz – é advogado, graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Santos, Pós-Graduado em Direito Tributário e Processual Tributário pela Escola Paulista de Direito (EPD), membro da Associação dos Advogados de São Paulo. É sócio-fundador do escritório Losinskas, Barchi Muniz Advogados Associados

Compartilhar:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Email

Deixe um comentário

Você pode optar por ficar anônimo, usar um apelido ou se identificar. Participe! Seus comentários poderão ser importantes para outros participantes interessados no mesmo tema. Todos os comentários serão bem-vindos, mas reservamo-nos o direito de excluir eventuais mensagens com linguagem inadequada ou ofensiva, caluniosa, bem como conteúdo meramente comercial. Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja Também: