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É Páscoa novamente.
Passaram-se os sombrios e monótonos dias de Inverno. A Mãe Natureza remove o manto frio de gelo que cobre a terra, permitindo a milhões e milhões de sementes abrigadas no chão macio, romperem a sua crosta e vestirem o solo com trajes de verão numa orgia de cores alegres e vistosas, preparando as “câmaras nupciais” para os animais e as aves acasalarem.
Mesmo nestes anos de guerra regado de lágrimas, o canto da vida ressoa bem alto, acima do canto fúnebre da morte. “Oh! morte, onde está o teu aguilhão? Oh! tumba, onde está a tua vitória?” Cristo ressuscitou – os primeiros frutos. Ele é a Ressurreição e a Vida; quem acredita Nele não morrerá, mas terá a vida eterna.
Na presente estação, a mente do mundo civilizado volta-se para a festividade que chamamos Páscoa, na qual se comemora a morte e ressurreição do nobre ser que o mundo conhece pelo nome de Jesus, cuja vida foi escrita nos Evangelhos.
Mas um Cristão místico tem uma visão mais profunda e mais ampla desse evento cósmico que se repete anualmente. Para este, o que existe é uma impregnação anual da Terra com a vida do Cristo cósmico. Uma inalação que tem lugar durante os meses do Outono, culminando no solstício do Inverno quando celebramos o Natal, e uma exalação que chega ao fim na época da Páscoa.
A inspiração ou impregnação manifesta-se pela aparente inactividade do Inverno, enquanto que a expiração da vida de Cristo manifesta-se como a força da ressurreição, que dá nova vida a tudo o que vive e se movimenta sobre a terra, vida abundante, não apenas para manter, mas para propagar e perpetuar.
O drama cósmico da vida e da morte é representado anualmente por todas as criaturas e coisas evoluintes, da maior à menor, porque até o grande e sublime Cristo cósmico, na Sua compaixão, fica sujeito à morte quando entra nas condições enclausurantes da Terra num período do ano.
Por conseguinte, é oportuno recordar alguns pontos relativos à morte e renascimento que, às vezes, podemos esquecer. Entre os símbolos cósmicos conservados desde a antiguidade, nenhum é mais comum que o símbolo do ovo. Encontramo-lo em toda a religião.
Está presente no Antigo Eddas dos Escandinavos, venerável pela idade, que nos fala do ovo mundano arrefecido pelo sopro gelado no Niebelheim, mas aquecido pelo hálito quente do Muspelheim antes que os vários mundos e o próprio homem viessem a existir. Se nos voltarmos para o ensolarado sul, podemos achar nos Vedas da índia a mesma história no mito Kalahgansa, o Cisne do tempo e do espaço, que pôs o ovo que veio a ser finalmente o mundo.
Entre os egípcios encontramos o globo alado e as serpentes ovíparas, simbolizando a sabedoria manifestada neste nosso mundo. Depois, os gregos utilizaram esse simbolismo reverenciando-o nos seus Mistérios. Foi preservado pelos druidas.
Esse símbolo era também conhecido dos construtores do outeiro da grande serpente em OhioTP6PT, e conservou o seu lugar na simbologia sagrada até hoje, muito embora a grande maioria dos seres humanos seja cega ao profundo mistério que ela encerra e revela – o mistério da vida.
Quando quebramos a casca de um ovo, achamos apenas fluidos viscosos de coloração variada e consistências diversas. Mas, se submetido a uma temperatura adequada, logo observamos uma série de mudanças, assim, em pouco tempo, uma criatura viva pode romper a casca e surgir pronta para assumir o seu lugar entre os da sua espécie.
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