SÃO PAULO – Na tentativa de entender a complexidade do acelerado processo de mudanças pelo qual está passando o mercado de planos de saúde, e o que as incertezas do presente nos reserva para o futuro, visitamos, no último dia 12 (sexta-feira), a Qualicorp, maior administradora de planos de saúde coletivos por adesão no País.
Na ocasião, fomos recebidos com um café da manhã pelo superintendente comercial José Carlos e pelo seu vice-presidente comercial Leonardo Guerreiro. A Qualicorp, justiça seja feita, sempre demonstrou boa vontade, quando procurada pela nossa redação.
O mercado, de A a Z, vive o espectro de mudanças reais capazes de trazer segurança jurídica para as operadoras, administradoras e consequentemente para os usuários de planos de saúde. Estes últimos, responsáveis pela judicialização do setor, quando recorrem aos tribunais para reivindicar direitos que não estão contemplados em seus contratos. Um oportunismo cínico que vai ao encontro do comportamento de alguns corretores acostumados a fraudar a Declaração de Saúde (DS), parte integrante do contrato de adesão.
Nesse oceano de dúvidas, a Qualicorp – hoje com nove filiais Brasil à fora: São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus, sem considerar as franquias – parece navegar em mar de brigadeiro; basta verificar o fechamento de junho, recorde histórico em produção. Produção essa, cujo modelo de comercialização, para alguns, ainda lembra o esforço de um caixeiro viajante. É quase uma unanimidade, entre os consultados, que é incompreensível, além de absurdo, o segmento de saúde, ao contrário do de seguros, até hoje, não poder realizar vendas on-line.
Com praticamente todos os produtos para oferecer na grade do adesão: (com coparticipação, sem coparticipação, só hospitalar e hospitalar ambulatorial), a Qualicorp, pelo que apuramos, não está nenhum pouco preocupada com a celeuma criada em torno da volta do produto Pessoa Física. Até porque, na ocasião em que a Qualicorp se destacou no mercado, o produto Pessoa Física ainda era comercializado pela Amil, Omint, Unimed Paulistana, entre outras operadoras de menor expressividade.
Sobre a possível venda da Qualicorp, conforme veiculado na imprensa especializada em economia, a administradora, com 80% de suas ações nas mãos de investidores e 20% sob o domínio de seu fundador, tergiversa: “A Qualicorp não comenta especulações de mercado”; mas, a nossa intuição, que raramente se engana, percebeu que na resposta-padrão está implícito o valor de compra proposto por um eventual investidor interessado. Estas são apenas impressões do blogueiro.
O mercado, como já dito aqui em outra ocasião, está pagando o preço hoje por não ter se organizado quando podia tê-lo feito por conta própria. Hoje, amarrado às Resoluções Normativas (RNs), impostas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e sob marcação cerrada da “indústria de liminares”, certamente está bem mais difícil. Depende agora de um esforço coletivo muito maior entre os players do mercado e da vontade política daqueles que atuam na esfera do poder público. Tudo isso embalado por uma inflação hospitalar sobre a qual não há nenhum controle.
Mão de obra desorganizada, com alto grau de intempéries, pode se tornar um viés de fuga. Os empresários, sócios de Corretoras, sabem disso. Exaurido, o mercado dá sinais de que não dá mais para segurar. Os maus profissionais, se é que assim podemos chamar quem pratica estelionato, devem ser expurgados do mercado, para o bem de todos. A fraude nos contratos de planos de saúde está matando o negócio e está doendo no bolso de todo mundo. Ao contrário de uma fraude administrativa – que nem por isso é crime menor – a fraude de patologia é assustadora e a conta é faturada em nome de todos. Todos perdem.
Em última análise, pode-se concluir que a incerteza, responsável pela estagnação do setor, está mobilizando o mercado em direção a uma solução definitiva: a regulamentação do mercado de planos de saúde, a profissionalização do corretor, a informatização do processo de comercialização e a necessária seleção da mão de obra, responsável pelo Canal de Vendas.
Na Qualicorp, pelo que apuramos, sai e não entra mais, aquele que pratica fraude em suas propostas. E assim deveria proceder todos os donos de Corretoras.
É hora de banir o vendedor desonesto e valorizar o profissional que trabalha dentro das regras do jogo.
As mudanças, tão desejadas quanto necessárias, estão nas mãos dos donos de Corretoras e na gaveta dos burocratas das grandes operadoras(!)