Teste do CREMESP reprova mais da metade dos médicos recém-formados. Onde foi que erramos?

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Na última semana foram divulgados os resultados do último exame feito pelo CREMESP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), cujo objetivo era avaliar a aptidão dos médicos recém-formados par atuar na vida prática.

Foram reprovados 56,4% daqueles que prestaram a prova, o que não significa qualquer impedimento legal a exercerem a atividade de medicina, que exige apenas o diploma.

A população estará, então, nas mãos de pessoas que a própria classe não considera aptas a trabalhar corretamente, pelo desconhecimento de situações que deveriam ser basilares para qualquer formando da área.

Evidente que o primeiro efeito devastador é o risco à saúde da população, mas não para por aí. Os hospitais estarão mais sujeitos a erro médico e aos consequentes processos, girarão a máquina judiciária das indenizações e podem atingir até mesmo os planos de saúde que se vincularem a esses profissionais.

É evidente que errar é humano e qualquer pessoa está sujeita a errar ou ser vítima de erro. Mas quando colocamos nos ambulatórios e salas de cirurgia profissionais notoriamente desqualificados para tanto, estamos concluindo mais uma etapa do "país do faz-de-conta".

Estamos falando da questão dos médicos porque foi a divulgada na última semana, mas isso se aplica a toda sorte de áreas educacionais, incluindo a advocacia. Os exames da OAB, realizados diversas vezes ao ano, registram uma média de reprovação de cerca de 80%. Sim, a cada 10 formados para serem advogados, 8 não estão aptos para tanto.

As estatísticas de educação só não são mais graves porque outras áreas não possuem exames do tipo para avaliar seus formados.

A verdade é que a educação no Brasil se tornou uma esculhambação, tendo, de um lado, um sem fim de universidades despreparadas e despreocupadas com o ensino, muitos professores péssimos, que ocupam as cátedras apenas para poder dizer e fazer pose aos clientes e à sociedade com o cargo, alunos despreparados, desinteressados e sem vocação e, por fim, o tal fetiche brasileiro pela educação.

Sim, um fetiche, pois o brasileiro adora a "educação" de forma nominal, mas odeia se educar. Gosta do animado ambiente universitário, mas odeia estudar. Prega todo respeito aos professores, mas odeia os seus próprios professores, principalmente se forem exigentes. Tem na cabeça a figura metafórica do estudo como o "ir à escola", como se a permanência no estabelecimento, por si só, criasse "educação de qualidade. No ensino técnico e nas universidades, o brasileiro "quer partir para a ação", trabalhar e ganhar dinheiro logo, sem ainda saber fazer nada de útil.

Claro que esta última hipótese pode, até certo ponto, ser uma ansiedade natural pelo gosto do aprendizado ou até mesmo uma vontade nutrida por grande interesse no estudo, mas, na maioria das vezes, impera o imediatismo e o dinheiro rápido, antes da boa formação profissional e pessoal.

E digo isso com propriedade. Durante as quartas-feiras à noite, ao longo do ano de 2012, tive a oportunidade de ser professor assistente da disciplina de Filosofia do Direito em uma faculdade. Para quem não se lembra, 2012 foi justamente o ano em que o Corinthians foi campeão da Libertadores, jogando sempre nas quartas à noite. Imagine só quantos alunos acompanhavam as aulas…

Enfim, não há uma só pessoa no Brasil que não esteja "preocupada" com a educação. E, confundindo a metáfora da escola como representante da educação, acham que a solução para o bom ensino e para a boa educação é se criar "mais escolas". Nosso país tem, por exemplo, 1.240 faculdades de Direito. O resto do mundo, SOMADO, tem 1.100.

No final de 2015, tive a oportunidade de participar de um grupo de estudos em Direito Financeiro, ramo que disciplina as receitas e despesas públicas. Por coincidência, fui incumbido de pesquisar e apresentar um seminário sobre o financiamento da educação.

Pude verificar as políticas públicas e que o nosso país, em termos percentuais, é o que mais destina dinheiro para essa área. Ainda assim mais de 50% dos universitários brasileiros não são capazes de ler e compreender o que leem.

Me lembro que na semana anterior à apresentação, duas notícias marcantes foram divulgadas na mídia: a primeira era que a Nova Zelândia estava substituindo o ensino de História pelo de Programação de Computadores. A segunda, que o Senador Romário havia proposto um projeto para obrigar as escolas de ensino médio a ensinarem "Direito Constitucional".

Sobre a primeira notícia, tão logo fora levantada na discussão, uma colega assim disse para que todos ouvissem: "prefiro o Brasil, aqui pelo menos não somos alienados.". Parei e fiquei em silêncio.

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JORNALISTA

Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

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