Por Alvaro Trilho | Diretor de Risk&Analytics Brasil da Willis Towers Watson
Os acontecimentos do ano passado reorganizaram o cenário de risco corporativo de maneiras sem precedentes. Em meio à pandemia da COVID-19, as organizações tiveram que administrar os efeitos de uma recessão e buscar entender quais as estratégias que estavam ao seu alcance possibilitariam reduzir ao máximo possível o impacto financeiro da crise.
Nem bem finalizamos o primeiro trimestre de 2021 e o cenário não é dos mais otimistas para a maioria das indústrias. Para reagir a tudo isso, o mercado de seguros vem buscando utilizar todas as ferramentas possíveis com o objetivo de manter a resiliência financeira e as reservas de capital necessárias para subscrever nesta situação de imprevisibilidade.
Como resultado, as organizações devem aguardar mudanças substanciais na capacidade disponível e nos preços. No Brasil, já pode ser percebido um endurecimento adicional nas principais linhas de seguros, especialmente aquelas com exposições relacionadas à COVID-19, como responsabilidade de diretores e executivos (D&O), indenização profissional e interrupção de negócios. Ou seja, as taxas dos seguros estão subindo e, em muitos casos, as seguradoras não estão dispostas a negociar os termos.
O segmento de seguros é cíclico. Ele oscila constantemente entre um mercado em alta e em baixa. O que torna o momento único na história é que possivelmente o ciclo da alta que começou ao longo de 2019 tende a permanecer por um período prolongado desta vez.
Embora a ideia de resiliência tenha sido difundida em escritórios corporativos por anos, a pandemia adicionou um senso maior de urgência. Essa característica costuma ser mais comum em empresas dos setores de tecnologia e bens de consumo duráveis, que tendem a ser mais voláteis, e é mais baixa em setores com demanda mais estável, como alimentos e bebidas e produtos domésticos. Isso porque esse tipo de valor costuma ser mais alto em companhias que enfrentam crises mais profundas ou mais frequentes.
Além de sentir no bolso, as empresas seguradas sofrem uma maior pressão para melhorar a resiliência e aplicação de estratégias como a de conformidade ambiental, social e de governança (ESG), além da necessidade de uma gestão eficaz da continuidade dos negócios.
Violações cibernéticas, mudanças climáticas, pandemia, riscos comerciais e políticos estão no topo das preocupações para a maioria dos líderes empresariais. Agora é o momento para as empresas agirem com cautela e reavaliarem como veem e gerenciam seus riscos. As organizações de menor porte devem contar com as estruturas oferecidas pelas corretoras. Nas grandes organizações fica evidente a importância do gerente de riscos atuando em conjunto com seu consultor de seguros. Neste cenário o corretor de seguros que, além de avaliar os níveis de cobertura apropriados para o negócio, regular sinistros e realizar treinamentos, tem que ter o comprovado conhecimento para implementar programas de gerenciamento de risco, auxiliando as organizações na identificação, mensuração e tratamento de seus riscos, seguráveis ou não. A tecnologia para isso já existe, vinha sendo aplicada, mas foi acelerada com a urgência que o momento de crise exige. A utilização de Big Data para trazer estes serviços aos segurados tem crescido exponencialmente.
Embora a pandemia seja indiscutivelmente uma ameaça aos negócios, ela também traz oportunidades. As empresas que conseguirem administrar seus riscos revendo seus processos, acelerando mudanças necessárias e, de certa forma, antevendo o futuro sairão maiores e melhores desta crise, além de estarem mais preparadas para as próximas que possam surgir.