Estudantes universitários da Universidade de Salamanca, na Espanha, seguindo a tradição, estendem suas túnicas acadêmicas para saudar o homenageado Luiz Inácio Lula da Silva que recebeu o título de Doutor Honoris Causa (abril de 2015). O ex-presidente já acumula 40 títulos – um recorde histórico. "A instituição te honra, e você, presidente Lula, honra esta universidade".
A 'barriga' intencional da 'Folha'
Por Luciano Martins Costa, do site: Observatório da Imprensa
.Uma das grandes preocupações de teóricos do jornalismo após a criação da internet era o conflito potencial entre a ambição da notícia exclusiva e a nova realidade da mídia universal. Como conseguir um "furo" jornalístico se qualquer um que tiver acesso à rede mundial de computadores pode dar uma notícia em primeira mão? Esse fantasma se materializou com o predomínio das redes sociais e o avanço dos telefones celulares.
O "furo" jornalístico é um troféu valioso demais para ser colocado em risco por um desmentido imediato na rede global de comunicação. Por outro lado, uma informação incorreta pode afetar a credibilidade de um veículo de comunicação, ainda com mais gravidade se ela se espalhar o suficiente para influenciar um grande número de pessoas antes de ser revelada como fraude.
Por isso, as redações dos melhores jornais do mundo investiram em três recursos para minimizar o risco das "barrigadas" ? os "furos" falsos.
O primeiro recurso é contar sempre, entre os editores, com profissionais experientes, capazes de contextualizar qualquer notícia e questionar sua verossimilhança. Entre meados dos anos 1980 e o final dos 90, por exemplo, O Estado de S. Paulo tinha uma equipe de editores executivos que praticavam nas reuniões da primeira página o que se chamou de "dessacralização da notícia" ? ou seja, cada editor especialista era desafiado a fundamentar a pauta que oferecia como destaque, em linguagem que pudesse ser entendida por um leigo.
O segundo recurso, e igualmente eficaz, é contar com um planejamento da pauta e processos de seleção de prioridades que mantenham a equipe em alerta para pontos obscuros em informações primárias.
O terceiro, e mais importante, é a própria alma do jornalismo: a dúvida. Ela se resume na pergunta desconfiada: "E se…?"
Evidentemente, ninguém vai esperar, por exemplo, os atestados de óbito, para afirmar que os passageiros de um avião que explodiu estão todos mortos, mas ainda assim a praxe é esperar por uma informação oficial para fazer essa afirmação.
E se, contra todas as probabilidades, for encontrado um sobrevivente?
Sem querer, querendo
Nenhum desses cuidados primários foi tomado pela redação da Folha de S.Paulo, na quinta-feira (25/6), ao noticiar, em sua edição digital, que o ex-presidente Lula da Silva havia ingressado com pedido de habeas corpus preventivo, na Justiça do Paraná, para não ser preso como acusado na Operação Lava-Jato.
A notícia original foi publicada às 11h25. Cinco minutos depois, uma nota colocada apressadamente dizia: "Erramos ? Não foi Lula que pediu habeas corpus preventivo; ação foi de consultor sem ligação com o ex-presidente".
A pequena nota corretiva foi substituída muito tempo depois, às 15h07, por outro "Erramos", que informava: "Versão anterior da reportagem 'Habeas corpus preventivo pede que Lula não seja preso na Lava Jato' informou incorretamente que o pedido de habeas corpus havia sido feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva" (ver aqui).
O título, o texto e a chamada na home page do portal foram corrigidos, mas a versão original já corria pelas redes sociais, impulsionada por uma equipe a serviço do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Mesmo com os sucessivos atentados ao bom jornalismo que fazem a rotina da imprensa brasileira, difícil acreditar que a redação da Folha de S. Paulo tenha cometido um mero erro técnico, uma "barrigada".
Foi mais do que incompetência: foi resultado de um empenho do jornal em criminalizar o ex-presidente da República, no rastro de um processo que começa a incomodar alguns dos mais renomados juristas do país, por uma sucessão de decisões tidas como arbitrárias.
O viés condenatório da Folha pode ser percebido na versão atualizada às 15h32 de quinta-feira, na qual se lê que "segundo o Instituto Lula, qualquer cidadão pode impetrar o habeas corpus". O correto e honesto seria dizer, simplesmente, que "o pedido de habeas corpus pode ser feito em nome de terceiros por qualquer cidadão", como saiu na edição de papel na sexta-feira (26/6) ? porque essa é a norma legal, não a "opinião" do Instituto Lula.
As trapalhadas que se seguiram apenas aumentaram a repercussão da notícia ? e para muitos cidadãos fica a impressão de que Lula da Silva está na iminência de ser colocado na cadeia ? o que não é verdade, porque ele nem sequer é investigado.
Os outros jornais alimentam essa versão ao publicar textos ambíguos ? por exemplo, o Estado de S. Paulo diz que Lula "nega que seja o autor do pedido" ? frase que não se justifica depois que o impetrante do habeas corpus admitiu ter agido por conta própria.
O episódio dá razão aos impertinentes que chamam aquele jornal de "Falha de S. Paulo".
RODAPÉ
Crime como este recentemente cometido pela Folha, não ficaria impune se já estivesse em vigor, no País, a lei que democratiza os meios de comunicação. Nos EUA e nos principais paíes da Europa, a Ley de Medios, como é chamada a lei que regulamenta os meios de comunicação, já existe há anos. Aqui, a oposição confunde a população transformando um avanço democrático em "censura à liberdade de expressão".
A força da direita, além de poderosas relações institucionais, conta com o apoio maciço da mídia, que, na oposição ao governo, cruza a ponte democrática e os limites profissionais para desembocar no jornalismo marrom, a se valer da ignorância e da ingenuidade política da maioria.
Cresceu a repulsa aos petistas. Bresser-Pereira, ex-ministro dos presidentes Sarney e FHC, identifica isso como ?ódio de classe?, emergido a partir dos amplos programas sociais e consolidado após a derrota sofrida por Aécio Neves na eleição presidencial. A 4ª derrota do partido.
Não há surpresa nessa história. A questão social é uma intrusa na pauta da direita, que nunca deu prioridade aos pobres. O Programa Bolsa Família e a inclusão econômica são alvos desse repúdio de classe. Manifesta-se aqui e ali. A reação mais conhecida ocorre nos aeroportos do País. Pergunta o usuário burguesote das linhas aéreas: onde já se viu pobre usar avião como meio de transporte?
Desagradável. A culpa é do Lula.
Amanhã, ao abrir a janela da casa em que moro, não me espantarei se encontrar a rua pichada expressando o mórbido desejo dos fascistas de plantão: "blogueiro petralha, morra!" Isso não me assusta, porque não temo a morte, que para mim, nada mais é do que um passo no processo evolutivo do indivíduo!
"Minha casa não é minha e nem é meu este lugar. Estou só e não resisto, muito tenho pra falar".
"Sou a voz que clama no deserto".
Inspirado em Rosa dos Ventos