Veríssimo tenta explicar o fenômeno de um ponto de vista filosófico, menos político, talvez para não criar mais atritos com o jornal que publica suas colunas. O Globo é declaradamente oposição ao governo federal e ao PT, a quem atribui a responsabilidade por tudo de ruim que aconteceu de 1980 para cá. Para o escritor, ?há uma crise de representatividade generalizada.?
Ele sustenta, sem julgamento ou contaminação ideológica, que partidos políticos se reestruturam em toda parte, para salvarem algum tipo de coerência da confusão: ?Um exemplo é o PT, com suas várias correntes em luta para definir uma identidade para o partido ou resgatar uma identidade perdida.? E dá outros exemplos pelo mundo, como na França, onde o partido do Sarkozy, a UMP, mudou de nome, agora é Republicains. Ou na Inglaterra, onde os trabalhistas continuam tentando descobrir o que representam de diferente dos conservadores no poder.
Seria naturalmente mais simples analisar e concluir que existem dois brasis no Brasil. O daqueles que ascenderam socialmente, passaram a consumir e vislumbraram uma perspectiva real de melhoria de vida e que hoje têm recursos para invadir Nova York e assistir aos melhores espetáculos teatrais do mundo. E o Brasil da mídia, para quem não há futuro com o atual governo, já há mais de 12 anos no poder, que afunda na lama, leva a população ao empobrecimento e o país ao descrédito internacional.
No bojo de sua análise, Veríssimo faz uma crítica sutil à elite brasileira, que espanca as panelas em protesto contra o governo, alardeia uma crise sem precedentes, mas que mantém as condições financeiras para manter seu elevado padrão de vida, gastando seu inglês fluente nos destinos mais badalados de Nova York
"Brasileiros enchendo teatros em Nova York significariam que o Brasil vai muito bem. Mas isto se qualquer coisa significasse alguma coisa", despista Veríssimo.
Fonte: 247