O médico Florentino Cardoso, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), com sede em São Paulo, é funcionário público em horário integral (40 horas semanais) na Universidade Federal do Ceará, onde ocupa o cargo de assessor especial da reitoria. Em maio, ele recebeu o salário bruto de R$ 6.284,22 por esse cargo.
O Portal da Transparência, onde essas informações estão ao alcance de qualquer cidadão, confirma que ele não está de licença, nem afastado do cargo, e que o local de trabalho é na reitoria da Universidade, em Fortaleza (veja abaixo). Portanto, oficialmente, ele tem o dever moral de honrar o salário que o poder público lhe paga e trabalhar. Simples assim.
Porém, na quarta-feira (31), o doutor Florentino estava a cerca de 2.400 quilômetros de distância de seu local de trabalho, fazendo proselitismo em São Paulo contra o programa Mais Médicos, do governo federal, ao lado do eterno candidato à Presidência da República José Serra (PSDB-SP) e do presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), Barjas Negri (PSDB-SP). Ambos, aliás, ex-ministros da Saúde.
Barjas merece um capítulo à parte para lembrar quem já esqueceu e mostrar a quem não sabe de quem se trata. Em 2006 ele foi um dos diretamente envolvidos no chamado Escândalo das Sanguessugas, pelo qual o Ministério da Saúde liberava a compra de ambulâncias superfaturadas.
Além disso, durante gestão de Geraldo Alckmin como governador de São Paulo, Negri assumiu, entre 2003 e 2004, a presidência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo (CDHU). Sua permanência no cargo foi alvo do Tribunal de Contas do Estado, que condenou e responsabilizou Barjas Negri por irregularidades praticadas em 102 contratos firmados pela autarquia.
Escândalos à parte, dessa vez, Serra e Barjas foram se “solidarizar” com a posição da AMB, contrária ao programa do Ministério da Saúde para ampliar o número de médicos para prestar atendimento público em cidades do interior do país e periferia das grandes metrópoles. Na quinta feira (1), a Justiça Federal no Distrito Federal, rejeitou dois pedidos da AMB que pedia para anular o programa Mais Médicos.
José Serra, em seu discurso, repetiu os argumentos de parte da classe médica, de que “Não falta médico…”, para criticar a possibilidade de profissionais formados em medicina no exterior venham preencher as vagas abertas pelo governo, mas que os médicos brasileiros se recusam a preencher.
Serra, que se orgulha de dizer que passa horas e horas na internet, deveria usar seu tempo para se informar que nada menos do que 3.511 municípios do país mostraram que sofrem por falta de médicos.
Impossível brigar com essa realidade. Além disso, Serra deu mais um show de incoerência, ao esquecer de que quando foi ministro da saúde, esteve pessoalmente em Cuba para contratar médicos cubanos.
Por: Helena Sthephanowitz