O mercado de planos de saúde enfrenta uma grave crise, com redução de beneficiários e possibilidade de mais quebra de operadoras, segundo especialistas do setor.
Só no último trimestre (de julho a setembro), a perda foi de 236,2 mil clientes. A desaceleração começou há um ano, quando a taxa de crescimento começou a cair. No mês passado, o setor registrou a perda de 164,4 mil beneficiários.
Setembro fechou com total de 50,26 milhões de clientes –queda de 0,3% em relação ao mesmo período de 2014. A análise é do IESS (Instituto de Estudos da Saúde Suplementar), a partir de dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
A a queda da Unimed Paulistana, que figurava entre as maiores do sistema Unimed, acendeu o alerta vermelho. Para a advogada Renata Vilhena, especializada em direito à saúde, o risco de mais operadoras quebrarem é real.
“A Unimed Rio já está sofrendo intervenção da ANS. A Unimed Paulistana estava sofrendo intervenção da ANS desde 2009 e durante esse período a situação piorou, culminando na catástrofe anunciada em setembro”, afirma.
Para a FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), a retração do mercado pode ser atribuída à atual crise econômica, em especial à retração do mercado de trabalho e do rendimento real dos brasileiros.
A Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Grupo) diz que a situação do setor também foi agravada pela inclusão de novos procedimentos que os planos são obrigados a oferecer.
“O reajuste autorizado pelo governo [no caso dos planos individuais] não paga esses custos. Estamos numa encruzilhada. O setor está destruído”, diz Pedro Ramos, diretor da Abramge. Os planos individuais representam cerca de 20% do mercado.
Mas Ramos não acredita em “quebradeira geral” do setor. “Haverá concentração de mercado. As empresas mais sólidas vão ter que socorrer as que estão em dificuldades.”
CUSTOS
Na opinião de Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executivo do IESS, a “quebradeira” se aplica a casos pontuais. “O que não significa dizer que o setor não enfrente dificuldades e tenha seus desafios. Há uma década temos notado que os custos da saúde superam, de forma significativa, a inflação média do país”, diz Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executivo do instituto.
Em dezembro de 2014, o indicador VCMH (Variação do Custo Médico-Hospitalar) apontou alta acumulada em 12 meses de 16,7%, enquanto o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) era de 6,7%.
Na opinião de Carneiro, o setor deve fechar o ano em queda, mas em proporção inferior à retração do PIB e do nível de emprego. “O plano de saúde é o terceiro principal desejo do brasileiro, atrás de educação e da casa própria. Então, é natural que, enquanto houver condições financeiras, os beneficiários e as empresas tentarão preservar esse benefício.”
Para Vilhena, porém, a crise do mercado de planos é resultado de uma “crise de valores institucionais”. “As pessoas só pensam em beneficio próprio, em receber vantagem financeira imediata, sem pensar no amanhã. Conversar com os idosos vítimas desta situação da Unimed Paulistana dá desespero, as famílias estão sem qualquer opção. Os planos oferecidos pelo acordo tem uma rede credenciada muito pequena, sem condições de atender 750 mil pessoas.”
Por, Cláudia Collucci