Referência na área de oncologia, o Hospital A.C. Camargo planeja investir R$ 450 milhões nos próximos quatro anos para ampliar em 60% o número de leitos. “Serão construídos três novos prédios para atender a demanda de pacientes que cresce 20% ao ano. Hoje, temos 520 leitos e estamos no limite de nossa capacidade de atendimento”, disse Irlau Machado, CEO do A.C. Camargo, localizado no bairro da Liberdade em São Paulo.
O projeto de expansão dos próximos quatro anos já está traçado, mas não será liderado por Machado, que chegou ao A.C. Camargo em 2005 e promoveu uma profunda reestruturação, tirando o hospital do prejuízo e do endividamento. O executivo, que tem passagens pela Medial e Santander, será a partir do dia 31 deste mês o novo CEO da Intermédica, operadora de planos de saúde vendida para o fundo americano Bain Capital por cerca de R$ 2 bilhões em março. Ainda não há um nome definido para substituí-lo no hospital.
“Deixo o A.C. Camargo com a casa organizada, uma ampliação de 170 para 520 leitos e um sentimento de dever cumprido. Agora, tenho outro grande desafio na Intermédica”, disse Machado, explicando que ainda não pode dar detalhes sobre a nova empreitada. Segundo fontes do setor, o fundo americano Texas Pacific Group (TPG), que por muito pouco não levou a Intermédica, também havia escolhido Machado para comandar esta operadora.
Os recursos para a ampliação virão de capital próprio do hospital filantrópico. No ano passado, 61,4% dos atendimentos no A.C. Camargo foram destinados a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A legislação exige que esse percentual seja de pelo menos 60% para que o hospital tenha isenção tributária.
Apesar do grande volume de pacientes SUS, o montante pago pelo governo é insuficiente para cobrir os custos. Para fechar as contas, o A.C. Camargo trabalha também com convênios médicos. Para efeito de comparação: o governo pagou R$ 41,7 milhões pelos 61,4% dos atendimentos oncológicos. Já os outros 38,6% dos atendimentos vêm de pacientes com planos de saúde e particulares que juntos geraram uma receita de R$ 770 milhões, no ano passado. A receita total do hospital foi de R$ 832,1 milhões em 2013, alta de 30,7% em relação ao ano anterior.
Mesmo com a defasagem na tabela SUS, o superávit do A.C. Camargo cresceu 48,3% para R$ 201,4 milhões em 2013. O bom desempenho foi impulsionado por um controle rigoroso nas despesas gerais e administrativas que aumentaram 5,7% – proporção bem inferior à receita. Além disso, o resultado financeiro avançou 35% para R$ 24,4 milhões, impactando positivamente a última linha do balanço. “Mesmo atendendo SUS fechamos no azul, mas é preciso ter uma austeridade nas contas e cobranças. Também é uma falácia a tese de que instituições filantrópicas não podem ter lucro. É preciso, sim, ter superávit e planejamento”, diz o executivo, que assumirá um convênio médico que trabalha com margens bem apertadas.
O desempenho do A.C. Camargo foi na contramão do setor. Os 55 hospitais ligados à Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) viram suas despesas crescerem em proporção superior ao faturamento em 2013, pelo segundo ano consecutivo.
Beth Koike