Não à Venda
“Não quero negociar com mais nenhum fundo. Agora, vou ampliar nosso foco e investir em uma rede de hospitais.” A frase é do médico Paulo Barbanti, fundador da Intermédica, que recentemente desistiu de vender a operadora de planos de saúde e dental para um fundo de private equity internacional assessorado pelo Deutsche Bank. O fundo estaria disposto a desembolsar R$ 2 bilhões por 100% da terceira maior operadora de planos de saúde do país.
Barbanti garante que, hoje, suas atenções estão voltadas para uma nova frente de atuação, a área de hospitais. Atualmente, a Intermédica tem nove hospitais destinados exclusivamente para clientes da operadora. A meta a partir de agora é atender o público externo, ou seja, clientes particulares e usuários de outros planos de saúde. A expectativa é que, daqui três ou quatro anos, 30% da receita bruta do grupo seja proveniente de serviços hospitalares.
Para isso, o médico está investindo R$ 320 milhões em três hospitais – dois deles já estão prontos e outro deve ser inaugurado dentro de dois anos. Hoje, os hospitais da operadora têm uma sobra de 100 a 150 leitos, que representa 15% do total, que podem ser disponibilizados para o mercado.
Há ainda um projeto de construção de outros hospitais em São Paulo e no Rio, cujos terrenos já foram adquiridos. No total, Barbanti tem 40 mil m2 de área disponível. Ele também planeja abrir para o público externo os centros de medicina diagnóstica que ficam dentro das unidades hospitalares.
“Os hospitais têm uma margem muito melhor do que os planos de saúde. Além disso, o setor não é regulado”, afirma Barbanti. No ano passado, o grupo registrou um faturamento de R$ 2,4 bilhões e lucro líquido de R$ 97 milhões. O grupo conta com planos médico e odontológico e uma seguradora de saúde, que juntos possuem cerca de 4 milhões de usuários.
Os planos de expansão da Intermédica correram em paralelo às negociações com o fundo de private equity e sinalizam que Barbanti não tinha intenções firmes de vender sua operadora.
Nos últimos quatro anos, o médico negociou com pelo menos cinco interessados, mas não fechou com ninguém. Nesta última transação, as conversas tiveram um avanço em relação às demais, o que chamou atenção do mercado. Ainda de acordo com fontes, Barbanti chegou a chamar o Credit Suisse e o BTG para avaliar a operação liderada pelo Deutsche, o que teria incomodado os bancos que também já atuaram como assessores em outras tentativas de venda da Intermédica.
“O problema não foi o valor”, diz Barbanti, quando questionado se teria apresentado uma contraproposta de R$ 2,5 bilhões ao fundo interessado no negócio, conforme comentaram fontes do mercado. Ele fundou a Intermédica em 1968 e até hoje centraliza as decisões. De acordo com pessoas ouvidas pelo jornal, Barbanti nunca vai vender a operadora porque a Intermédica é a “sua vida”.
No ano passado, ele contratou Glauco Abdalla, um dos sócios-fundadores da consultoria Galeazzi, para ser o CEO da Intermédica, disse que iria para a presidência do conselho e planejava um IPO (oferta inicial de ações). Porém, 60 dias depois desistiu dos projetos e voltou à ativa.
Aos 71 anos, Barbanti foge às regras do mercado. O médico tem aversão a financiamento bancário. Não à toa, sua operadora não tem endividamento, um dos motivos de tantos interessados. “Não vou crescer com alavancagem. Deixar dívida para os meus herdeiros, nem pensar”, diz. “As empresas de capital aberto pegam dívida para crescer. Eu não sou assim”, complementa o médico, dando uma demonstração das dificuldades que teria caso a operadora abrisse o capital.
Fonte: Valor