Esse pode ser o período de mudanças no setor de saúde
que hoje conta com 1,6 mil operadoras. Em 10 anos
esse número cai para 400 planos de saúde – mesma
quantidade que tem hoje o mercado americano – disse Bueno.
“Agora que a Amil foi vendida, como ficará o mercado de planos de saúde”?
Esta é uma pergunta recorrente entre os profissionais do mercado.
A matéria do Valor Econômico, publicada no dia 10 p.p. e reproduzida pelo Blog, hoje, pode nos auxiliar a vislumbrar esse futuro, preocupante para os fracos, mas otimista para os fortes.
Por Beth Koike
A chegada da gigante americana UnitedHealth Group ao Brasil deve atrair outros grupos e fundos de private equity estrangeiros. Entre os interessados no setor está, por exemplo, o fundo Texas Pacific Group (TPG), com participação na Azul e no laboratório Moksha8, segundo o Valor apurou.
A expectativa de que grupos internacionais vão desembarcar no Brasil é uma unanimidade entre operadoras concorrentes, hospitais e consultores do setor de saúde. A dúvida é em quanto tempo essa concorrência internacional mudará o mercado brasileiro de planos de saúde.
Na segunda-feira, durante anúncio de venda da Amil à United, Edson Bueno, fundador da companhia brasileira, previu que em três anos a operadora passará por profundas transformações. Esse pode ser o período de mudanças no setor de saúde que hoje conta com 1,6 mil operadoras. Bueno diz que em 10 anos esse número cai para 400 planos de saúde – mesma quantia que tem o mercado americano.
“Acredito que a competitividade será acirrada para as operadoras locais com a chegada da UnitedHealth porque ela tem muita experiência em gestão e deve trazer novos mecanismos de remuneração. O lucro operacional da Amil pode aumentar 5% com a adoção de novos modelos de gestão”, diz Paulo Hirai, sócio-diretor da SantéCorp, consultoria especializada em gestão de saúde.
Entre os mecanismos de remuneração usados pela UnitedHealth nos Estados Unidos e que podem chegar no país está o pagamento por performance, ou seja, o valor do procedimento médico está relacionado ao resultado obtido no procedimento médico. Esse assunto já é tema de estudos na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas esbarra na dificuldade de como classificar o que é um bom ou mal procedimento.
Outra prática comum entre os planos de saúde americanos é o pagamento conforme o diagnóstico. Por exemplo, uma cirurgia de coluna de alta complexidade tem uma remuneração maior em relação a um procedimento de menor gravidade. Hoje, no Brasil, há apenas uma tabela determinando o valor da cirurgia de coluna, independente da gravidade do caso.
Um instrumento também muito adotado pelas operadoras americanas para reduzir o custo dos convênios médicos é o pagamento, por parte dos usuários, de uma parte do procedimento médico – isso evita que o plano de saúde seja usado sem parcimônia. Esse mecanismo já é adotado no Brasil, mas em menor escala.
Operadores de planos de saúde brasileiros dizem que a United não será um “blockbuster”, um arrasa quarteirão para o mercado brasileiro de saúde. “A United tem tecnologia para controlar sinistros e um ótimo banco de dados que vão ajudar a Amil. Mas no que diz respeito à expansão, não acho que haverá mudanças tão significativas. A Amil têm dificuldades para crescer fora de São Paulo e Rio, onde têm hospitais próprios que reduzem seus custos”, disse um executivo de um grande plano de saúde.
Outro desafio para a United será a população de baixa renda. Nesse segmento está a Intermédica, que tem cerca 3 milhões de clientes. A Hapvida, líder no Nordeste, é também um concorrente de peso. Tem uma operação verticalizada.
Outro fator que pode vir a aumentar a presença de grupos internacionais no país é o projeto de lei do senador Fernando de Souza Flecha Ribeiro (PSDB/PA), que permite a participação de capital estrangeiro em hospitais. Com o anúncio da compra da Amil pela americana UnitedHealth Group, o senador diz que seu projeto pode voltar à pauta do Senado. O projeto prevê que grupos estrangeiros podem ter uma fatia minoritária em hospitais nacionais – a maioria continuaria sendo de brasileiros.
O projeto está em discussão há cerca de três anos no Senado. “O que chama atenção é que grandes operadoras eram contra esse meu projeto por causa da concorrência e agora a Amil é comprada por uma americana”, disse o senador. O senador defende a entrada de capital estrangeiros em projetos privados, como hospitais, que atendem SUS (Sistema Único de Saúde). “Há vários setores com investimento estrangeiro. A área da saúde precisa captar recursos para crescer”, disse Flecha Ribeiro.
A ANS avalia a compra da Amil e dará seu parecer em 15 dias.