Nos idos de 1997, em São Paulo, a profissão de cobrador de ônibus esteve ameaçada pelo projeto que substituiria essa categoria pelas catracas eletrônicas. O novo sistema, segundo a prefeitura, custaria naquela ocasião, cerca de R$ 55 milhões e uma redução de 20% nos custos do transporte.
A ameaça do desemprego em massa, no entanto, movimentou o sindicato da categoria e a ideia foi perdendo força.
Hoje, outra categoria – a de corretores de planos de saúde – está a um passo de ser praticamente extinta para dar lugar ao projeto de vendas online, defendido a fogo e ferro pelas operadoras de planos de saúde.
Donos de Corretoras, alguns, acreditam que vão surfar nessa onda. Não estão se dando conta de que o projeto está sendo enfiado goela abaixo.
Os corretores, por outro lado, ao contrário dos cobradores de ônibus, também não se deram conta ainda de que, uma vez implementado o projeto sem levar em conta a figura do intermediário, a função do corretor ficará obsoleta.
Vitimadas de forma recorrente pelas práticas dos maus profissionais, as operadoras, ao tentarem se defender, não medem esforços para usar o seu poder e a sua influência. Duas gigantes do setor – Amil e Bradesco – são as mais empenhadas.
Com o fito de não encontrar objeção por parte da ANS, durante as reuniões do Grupo Técnico – criado para discutir temas transversais às áreas da Agência reguladora, foi proposto pela Bradesco, caso aprovado o projeto de vendas online, uma redução de preços nas mensalidades do plano de saúde, desde que o virtual cliente, opte pela venda sem a participação do corretor.
No organograma da Amil, particularmente, denominado “Gestão de Vendas WEB – Plano de Assistência Médica”, apresentado à ANS pela operadora fluminense, é possível constatar no, slid 04, a ausência absoluta da figura do corretor (confira aqui).
Nesta segunda-feira (26), enquanto os corretores permaneciam em sua inércia, uma Colegiada já havia criado uma prévia da minuta da Resolução Normativa (RN), com a qual o projeto ganha corpo.
Que o mercado necessita urgentemente de ser depurado, eliminando os maus profissionais, isto é fato e condição sine qua non para a sua regulamentação. Mas é importante, todavia, que este projeto futurista venha acompanhado da preservação do “emprego” de milhares de corretores que necessitam da profissão para garantir a subsistência de si próprios e de suas famílias. Não será “jogando fora o bebê com a água do banho” que os problemas do setor serão resolvidos.
A ideia é boa, moderna e necessária, mas carece de um amplo debate e de muito mais participantes nele envolvidos.
Há ainda muitas informações às quais tivemos acesso que precisam vir à luz.
Antes que esta luz seja apagada.
E você, corretor, vai ficar aí vendo a banda passar?