Por Orestes Pullin
A progressão da pandemia do novo coronavírus entre as comunidades globais se constitui em um desafio sem precedentes para governos, empresas, entidades não-governamentais e sociedade civil. Sua natureza é obscura e não sabemos ainda mensurar a escala e a duração de seus impactos socioeconômicos, bem como não há um amplo consenso científico acerca de seu tratamento e cura.
Diante deste cenário, hospitais públicos e privados têm empenhado esforços consideráveis para dar conta da demanda extraordinária por atendimento a pacientes acometidos pelo vírus. Contudo, mesmo as melhores iniciativas têm tido dificuldade para mapear as múltiplas necessidades das comunidades, sobretudo em um País de dimensões continentais como o Brasil, onde cada localidade apresenta uma realidade distinta.
Seja no provimento de medicamentos e equipamentos de proteção individual até na manutenção contínua de quadros de profissionais nas linhas de frente de atendimento, definir e acelerar as ações necessárias ao combate da COVID-19 não são tarefas fáceis. Neste sentido, podemos identificar saídas para a inovação e o suprimento das necessidades dos brasileiros por meio da atuação das cooperativas de saúde, as quais, por sua natureza, tradicionalmente contribuem com o País em diferentes frentes.
Todas as cooperativas, independentemente de seus ramos, são regidas por sete princípios fundamentais, linhas orientadoras por meio das quais levam os seus valores à prática. O sétimo deles diz respeito ao interesse pelas comunidades, onde as cooperativas devem investir, por meio de políticas aprovadas por seus membros, no desenvolvimento sustentável das cidades e regiões nas quais estão inseridas. Preza-se essencialmente por aportes em projetos economicamente viáveis, ambientalmente corretos e socialmente justos.
No contexto da saúde, isso significa zelar pela integridade das populações locais ao mesmo tempo em que se contemplam projetos para aumentar o acesso às principais inovações da assistência médica, entendendo e levando em consideração as necessidades específicas de cada localidade. E isto, no cenário atual de pandemia, nunca foi tão vital.
O Brasil, por sua diversidade demográfica e proporções, verifica evoluções distintas dos índices de contágios em suas regiões, assim como as diferenças socioeconômicas configuram cenários particulares. Vemos grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro empregando recursos para dar conta da grande demanda que recai sobre eles, enquanto cidades e estados com estruturas mais modestas podem encontrar dificuldade para absorver tantos pacientes de uma vez. Cada uma delas necessita de um plano de ação particular que contemple suas realidades e demandas específicas.
No Sistema Unimed, que abrange 84% do território nacional, encontramos diversos exemplos de como as cooperativas têm ajudado. Em Belo Horizonte, por exemplo, a cooperativa local foi uma das pioneiras no País na implantação de soluções de telemedicina, registrando entre março e junho mais de 20 mil atendimentos. A iniciativa foi tão bem-sucedida que seu conhecimento foi requisitado pela Prefeitura com vistas em replicá-lo e disponibilizá-lo, também, aos pacientes do SUS.
Já em Porto Alegre, a Unimed arrecadou 10 toneladas de alimentos que foram repassadas para a Campanha do Agasalho de seu respectivo governo municipal, em uma ação de escala notável. Ainda, esta cooperativa é co-financiadora de um estudo pioneiro da Universidade Federal de Pelotas (RS), que realiza um trabalho de testagem da população gaúcha visando estimar o percentual de infectados pelo novo coronavírus no estado. O levantamento, ainda em andamento, visa entender a evolução do vírus para oferecer direcionamentos para seu combate.
Há também a iniciativa da Unimed Crateús (CE), que reforçou a quantidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), adquiriu cerca de 6 mil máscaras cirúrgicas e N95, 100 protetores faciais, 248 macacões impermeáveis, 600 jalecos impermeáveis e outros itens como toucas e luvas. Já a Unimed Grande Florianópolis (SC) comprou mais de 525 mil máscaras de tecido para entregar gratuitamente aos clientes e doar à comunidade.
Há também o Movimento Saúde e Ação, que vem arrecadando recursos para doações a famílias em situação de vulnerabilidade durante a pandemia e contempla iniciativas dos Institutos Unimed, que centralizam e organizam projetos de cunho social nas comunidades locais assistidas nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Norte. Por fim, a Unimed do Brasil lançou recentemente o Painel Unimed COVID-19, uma ferramenta de domínio público para a consulta diária dos dados epidemiológicos referentes ao comportamento da doença no Brasil, servindo como base para que gestores públicos e privados possam ter melhor clareza em suas tomadas de decisões.
O elo das cooperativas com a sociedade é muito forte. Seu modelo econômico é baseado na união das pessoas com um mesmo objetivo. Destacam-se principalmente por atuar em favor da sustentabilidade e do desenvolvimento econômico e social da comunidade. E com o fortalecimento da economia colaborativa em tempos de pandemia, têm ganhado cada vez mais espaço.
Infelizmente, ainda não vislumbramos uma cura para a COVID-19. Mas valores como cooperação, diversidade, liberdade e responsabilidade, no sentido de promover o acesso de qualidade às melhores soluções de saúde a cada vez mais pessoas, seguirão presentes neste momento desafiador.
Orestes Pullin é presidente da Unimed do Brasil