O Brasil enlouqueceu ou eu estou ficando velho?

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Sim, querido leitor, semana passada comemorei meus 29 anos de vida e tenho que confessar que me sinto velho. Mais velho que meus poucos anos indicam que sou.

Ao contrário de Mario de Andrade nos seus versos de O Valioso Tempo dos Maduros, fiz as contas e quero crer firmemente que ainda tenho muitos mais anos a viver dos que os que já vivi, mas, mesmo assim, sinto-me velho.

E digo isso, pois ao olhar para fora de mim, não reconheço muita coisa. Parece que tudo realmente mudou e isso talvez não seja tão bom assim.

E esse é o primeiro paradigma, o da mudança. Mudar pode ou não ser bom, essa é a premissa inicial da conversa.

Dos tempos que me lembro, quem pichava algo, era pichador, vândalo, destruidor de coisas alheias ou simplesmente “um idiota”, como bem descreveu o pensador contemporâneo moderno Rogério Flausino, em participação em um programa de televisão comandado por esse sim velho, apresentador que há anos tenta se comunicar com a juventude.

Hoje não! Hoje pichação é vista como arte ou como uma forma de expressão que deve ser tolerada e, pasmem, incentivada, sob risco de se sofrer perseguição ideológica dos mesmos vândalos que rabiscam o muro da sua casa sem autorização e sem qualquer sentimento de culpa, ao contrário, que ainda se dizem afrontados pela existência de um muro, esse sim o verdadeiro culpado da agressão, o muro, que merece uma resposta pela sua existência já que transmitem a sensação de claustrofobia acinzentada, típica da cidade.

O que se ignora é que sem o muro, logo a sua casa já não seria mais a sua casa, e teria que ser dividida com indivíduos que ali querem permanecer e que negar-lhes isto fará de você um animal preconceituoso e incessível às necessidades dos menos favorecidos.

E isso me fez refletir: Essa mudança foi para melhor ou para pior?

Já que comentei sobre um programa de televisão, também me lembro de um que passava na maior emissora do país ao meio dia, onde um nordestino esculachava um negro beberrão, que falava tudo errado, além de estapear a cabeça de um careca, zombar de gordos, gagos, bigodudos e qualquer outro estereotipo que se possa imaginar. Mas isso era normal e nem por isso jamais me senti no direito de humilhar alguém por qualquer característica física ou psíquica ou sexual que seja, ao contrário do que defendem os patrulhadores da vida alheia que adoram colocar a culpa em terceiros.

Isso sem falar da existência de uma banda que teve sucesso meteórico com músicas que zombavam de portugueses, de pobres, de nordestinos, de gays e que só não continuou a massacrar as minorias com suas canções preconceituosas pois foram vitimados em um acidente aéreo.

Como consequência desse tempo e do surgimento dos novos tempos o humor passou a sofrer uma patrulha ideológica, pois se os que pensam como eu fazem uma piada sem graça, foi expressão mais sincera e brilhante da arte e deve ser tolerada por amor à liberdade de expressão. Se, ao contrário, quem proferiu tal piada for um alguém que não me identifico, pois estão devemos escorraçá-lo da convivência social e impedir que ele continue fazendo suas manifestações através dos veículos ao qual tem acesso, afinal, é um burguês, racista, homofóbico, opressor, insensível, burro, ignorante e que precisa “ir estudar”.

Será que essa mudança também foi para o bem?

Aliás, falando em classificar as pessoas, também tive meus próprios apelidos no colégio, alguns que perduram até hoje, mas não tenho coragem de dizer que sofri bullying, tema da moda entre crianças cada vez mais mimadas e que crescem desprovidas de conceitos como moral, ética, convivência em sociedade, respeito pelo próximo e que fogem de suas próprias responsabilidades e culpas  lançando-as sobre qualquer desculpa ou doença moderna recém inventada ou descoberta, tudo isso incentivado por pais ainda mais fracos e despreparados que confundem a educação dos filhos, a imposição de limites e a preparação deles para a vida com “violência contra a liberdade das crianças”. Graças a isso temos que dar nomes genéricos aos filhos, sem identificá-los com algum sexo e, da mesma forma, vestir-lhes roupinhas sem preocupação com cores, afinal, são só cores e a criança já nasce sabendo qual é a sua orientação sexual, ainda que não saiba nem andar, comer e mal consiga abrir os olhos. Ainda que algumas dessas crianças nem nasçam, pois, segundo uma jurista cotada para ocupar a cadeira vaga no STF a prática do abordo é “direito humano fundamental”.

Isso sem contar que um filósofo-professor que tem coluna no site com maior acesso do país publica textos incentivando a darmos bonecas para meninos e carrinho para meninas, sem notar que isso é justamente reproduzir a mesma coisa que se faz dando carrinhos para meninos e bonecas para meninas, ou seja, impor-lhes um dado comportamento.

Começo a me questionar mais um pouco: Será mesmo que o caminho está certo?

Crise sistêmica: o retrato dos dias de hoje.

Mas as mudanças não param por aí. Até outro dia a luta era pela democracia, pelo respeito às leis e por direitos! Hoje se tem democracia, mas não se quer aceitá-la, pois se o resultado não é aquele que eu gosto, então é golpe, os eleitores são burros e despreparados; devemos respeitar as leis, mas a polícia é fascista e opressora se me prende quebrando coisas alheias ou o patrimônio público, se estou pichando algo ou querendo me manifestar a favor de coisas que são justamente contra a lei; e temos direito, mas que não são suficientes, por isso devemos criar mais direitos, segmentando cada vez mais a sociedade e acirrando os conflitos em seu seio.

E com tantas mudanças de qualidade duvidosa, talvez seja questão de me perguntar se não estaria eu mesmo mudando de enquadramento dentro do espectro ideológico, indo de encontro a uma categoria demonizada no atual cenário: os conservadores.

Ora, será que realmente é impossível a convivência harmônica entre princípios conservadores e princípios liberais? Será que dentro das classificações do pensamento político, econômico, ou seja, ideológico, não é possível agregar coisas e não apenas afastá-la só para efetivamente pertencer a uma categoria?

Não seria justamente essa necessidade de se enquadrar a uma categoria no viés político a única justificativa plausível para brasileiros seguirem defendendo a governo Dilma e suas presepadas econômicas que levaram o país a derrocada (ainda que boa parte delas tenha sido adotada ainda no governo anterior)? Não é essa a explicação para a idolatria de um ex-presidente sabidamente corrupto e populista?

Seria também isso que justifica a proliferação de comentaristas e analistas desprovidos de preparo e o completo desaparecimento de jornalistas? Ao que lembro também, antigamente havia uma clara distinção entre o jornalista, que transmitia a informação se atentando aos fatos, dos comentaristas e analistas, que então buscavam depurar a notícia, agregando um sentido mais amplo a ela.

Enfim, são tantas mudanças que já não sei mais em que tempo estou e parece que nem estou mais no meu próprio tempo. Apesar disso uma coisa me parece certa: também não estou mais no tempo da razão…

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Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

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