Pico de mais de 50,4 milhões de beneficiários de planos médico-hospitalares, atingido em 2014, não deve se repetir a curto prazo
Por Fabiane Ziolla Menezes
Segundo especialistas, o pior já passou para os planos de saúde. Isto é, perdas de clientes na casa do milhão não devem mais se repetir. Ainda assim, as projeções para o fim de 2018 apontam para pouco mais de um quarto do crescimento estimado por entidades da área no primeiro semestre. A explicação é simples: o setor é levado a reboque pelo mercado de trabalho, que parece ainda estar saindo de um longo coma.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa cerca de 40% do setor, sobretudo operadoras do tipo seguradoras, baixou suas expectativas de 700 mil a 1 milhão de novos usuários em 2018 para cerca de 250 mil. Foi o que disse o diretor-executivo da entidade, José Cechin, à coluna Mercado Aberto da Folha de S.Paulo na semana passada. Em nota enviada à Gazeta do Povo, a FenaSaúde ressalta que houve um leve aumento no número de planos coletivos empresariais (que representam dois terços do setor) durante o primeiro semestre em comparação aos individuais e coletivos por adesão. E é normalmente dos coletivos empresariais mesmo que o setor depende para se alavancar.
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que o número de beneficiários de planos coletivos empresariais passou de 31,37 milhões para 31,52 milhões entre junho de 2017 e junho de 2018. Ao mesmo tempo, a quantidade de beneficiários de planos coletivos por adesão e de planos individuais caiu de 6,46 milhões para 6,43 milhões e de 9,28 milhões para 9,12 milhões, respectivamente, no mesmo período. Hoje, o país tem 47,23 milhões de usuários de plano de saúde (cerca de 155 mil estão sem a informação sobre o tipo de plano que possuem nas bases da ANS).
A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), que representa operadoras do segmento de medicina e odontologia de grupo e cerca de 30% do setor, é um pouco mais otimista: projeta um acréscimo de 379 mil usuários de planos de saúde no país até o fim deste ano. Com isso, o Brasil encerraria 2018 com 47,5 milhões de beneficiários de planos médico-hospitalares. Entre os fatores para considerar esse número estão perspectivas de mais vendas e contratações na indústria no segundo semestre, explica o economista-chefe da Abramge, Marcos Novais.
Neste ano, a entidade começou a medir também o churn rate ou taxa de cancelamento de contratos, que considera não só quem cancelou o contrato e deixou de ter plano de saúde como quem cancelou o plano e aderiu a um produto de outra operadora. Segundo a Abramge, entre fevereiro e abril deste ano, houve uma redução no churn rate dos planos coletivos empresariais de 2,4% para 2,3%, e nos planos individuais de 1,5% para 1,4%. Os planos coletivos por adesão têm uma taxa estável, em 1,6%. Esses dados mostram que menos contratos estão sendo cancelados, o que reforçaria, segundo Novais, que o pior já passou. Para os próximos dois anos, a Abramge projeta o ganho de cerca de 1,7 milhão de novos usuários.
Ainda assim, Novais não acredita que o pico de 50,4 milhões de beneficiários de planos médico-hospitalares, atingido em 2014, deva se repetir a curto prazo. “No médio ou longo prazo [no entanto] nós vamos voltar para esse número. A grande questão é para além dos 50 milhões e o que vai precisar mudar no produto para isso”, ressalta o economista-chefe da Abramge.
Ele acredita que só mudanças significativas poderão levar o setor a patamares inéditos. “ A gente vai precisar transformar o produto em um produto mais factível para a média da população brasileira. Mas não adianta a gente ofertar algo que fique abaixo das expectativas do consumidor. A gente tem que entender melhor a demanda e construir esse novo produto”, diz Novais, dando a entender que será preciso ir além das discussões já em andamento sobre o cálculo do reajuste dos planos individuais e a regulação da franquia e da coparticipação no setor. Ele diz que o patamar dos 50,4 milhões é conhecido e totalmente possível de ser alcançado de novo porque o custo per capita é também conhecido.
A FenaSaúde não defendeu mudanças na nota enviada à Gazeta do Povo, mas sabe-se que a entidade tem acompanhado de perto os grupos de discussão acerca dos temas já citados. A representante das seguradoras não deixou de salientar, no entanto, que, embora o setor tenha perdido beneficiários em razão da crise isso não aliviou o custo dos planos e saúde.
“Apesar da redução de 1,6% de beneficiários em 2017, o número de procedimentos realizados teve alta de 3,4% em relação ao ano anterior, chegando a mais de 1,5 bilhão, com custo total de R$ 145 bilhões, representando uma variação de 9,8% com relação a 2016. O crescimento acelerado dos custos é contínuo e preocupa não apenas os pagadores (pessoas físicas e pessoas jurídicas), mas também as operadoras de planos de saúde por se tratar de um grave problema da saúde suplementar, que deve ser enfrentado para manter a sustentabilidade do setor a longo prazo”, disse a entidade.