Parte 2: Arte e entretenimento

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No primeiro artigo da “trilogia” comentamos brevemente como o cinema atual vive apenas da nostalgia e da exploração da memória infantil das pessoas, a ponto de não existir mais blockbusters fora de personagens requentados.

Precisamos, porém, repetir o que já dissemos antes: o real problema não está na nostalgia, mas em como as pessoas encaram essa nostalgia e no que tiram dos filmes.

Vejam: nos últimos 10 anos Sylvester Stallone fez três filmes de “Os Mercenários”, que consistiam basicamente em reunir no mesmo set todos os atores mais famosos dos filmes de ação e pancadaria, de Chuck Norris a Schwarzenegger, passando pelo próprio Stallone, para que, juntos, atuassem com mais ação e pancadaria ainda.

Quem vai ver um filme desses não está esperando nenhum tipo de arte gloriosa, mas mera diversão por saber que verá um monte de caras brutos do cinema trocando socos sem nenhum motivo muito claro.

Aliás, no segundo filme, o vilão, interpretado por Jean Claude Van Damme, recebe o nome de “Jean Villain”, demonstrando que o roteiro não é mesmo uma preocupação.

É um filme para você quase literalmente tirar o cérebro da cabeça e dizer a ele: “pronto, pode descansar, eu não preciso de você” e se divertir com a chinela cantando entre respeitáveis rostos conhecidos já sexagenários e septuagenários.

Stallone não é intelectualmente presunçoso, querendo fazer maravilhas, embora tenha feito obras com significado, como os primeiros filmes das séries Rambo e Rocky, dramas reais cujas sequências foram convertidas em filmes de ação.

Ele ainda estrelou um filme chamado “O Demolidor”, do início dos anos 90, que é absolutamente genial. É uma sátira de ação/ficção criticando e antecipando as consequências da mentalidade revolucionária.

O leitor que já assistiu a esse filme e tem recordações vivas das famosas “três conchas” pode pensar que estou enlouquecendo. Convido-o a assisti-lo novamente e se impressionar sobre como aquele filme descreve rigorosamente o mundo atual, em pensamento e comportamento, com 30 anos de antecedência.

Retornando ao tema central, o problema é que os filmes da Marvel, por exemplo, não são tratados da mesma forma com que tratamos “Os Mercenários”. As pessoas realmente esperam enlouquecidas pelos novos lançamentos, com a expectativa não só de voltar à infância, mas de adequarem suas vidas às coisas infantis vistas nos filmes, vide o número de produtos comerciais destinados a adultos com esses temas. Ou seja, aquilo passa a fazer parte do imaginário e, eventualmente, se torna o limite de imaginação dessas mesmas pessoas.

Cinema e música são espécies que podemos categorizar em “arte” ou em “entretenimento”, a depender da obra. Chamar de “música” tanto Mozart (arte) quanto Justin Bieber (entretenimento) é uma impropriedade, mas já nos acostumamos com o uso do mesmo nome.

Da mesma forma é o cinema. Não se espera que todo filme seja de especial profundidade e não há mal algum naqueles que definitivamente não servem para nada, senão para distração. O problema é que o cinema enquanto arte acabou por desaparecer completamente, assim como também acontece com a música, a ponto de não sabermos mais que isso um dia existiu, impedindo a diferenciação de “arte” e “entretenimento”.

Como consequência, temos rappers tidos por poetas e diretores que fazem filmes extremamente vazios e subjetivos, acreditando piamente que estão fazendo coisa extraordinária.

Pensando bem, o problema está na crise das artes em geral.

No entanto, em nenhum lugar isso se revela com tanta clareza quanto no cinema. Ninguém em idade adulta escuta as músicas da Xuxa, senão por troça, mas, no cinema, não há qualquer inibição ao adulto procurar esses filmes para a “criança interior”, no pior sentido possível que a expressão possa adotar.

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Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

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