A greve dos caminhoneiros depois que a poeira baixou: o movimento, os sindicatos e os monopólios

agenciaweber

agenciaweber

G. K. Chesterton, um dos mais importantes escritores do século passado, cunhou a seguinte frase: "Você não pode ver o vento; pode apenas ver que há vento. Assim, também, não se pode ver uma revolução; pode-se apenas ver que há uma revolução.".

Há, comumente, muitas interpretações para as geniais frases de Chesterton, como essa acima transcrita. Mas, para o momento, gostaria de me ater a uma visão específica dela, para refletir sobre a recente greve dos caminhoneiros.

O que o grande escritor quis dizer nessa citação é que uma revolução é sempre precedida de ideias invisíveis e pouca coisa concreta. Nesse sentido, o homem do tempo da revolução não é capaz de vê-la, mas consegue perceber que algo está ocorrendo.

Somente quando se encerra a revolução é que se impõe a materialização efetiva do que a revolução trazia, antes, de modo invisível.

Olhando após o fim do movimento, essa greve não foi uma revolução, embora possa ter escancarado algumas realidades que nos recusamos a ver. Falaremos sobre isso adiante.

Na verdade, essa greve nem mesmo foi uma greve. No excelente artigo de Almir Pazzianotto Pinto para O Estado de S. Paulo, intitulado "Greve ou Motim?" e publicado em 06/06/2018 (veja aqui), o autor nos prova que o movimento foi, mesmo, um motim. Transcrevo:

"A partir do momento em que caminhoneiros e agentes provocadores infiltrados partiram para a violência nas rodovias e nos postos de reabastecimento, organizaram bloqueios nas entradas das cidades com delinquentes armados de pedras e porretes, impediram a circulação de automóveis, causaram o desabastecimento de gêneros alimentícios e remédios, o que no início teria sido movimento reivindicatório degenerou em motim."

A primeira coisa que podemos ver desse motim é o aspecto da reação popular. Com honestidade, não vi muita gente que realmente apoiasse os caminhoneiros. A maioria sentia alguma estranheza em tudo aquilo, sem saber explicar ao certo se a coisa estava certa ou errada.

No entanto, se perguntasse publicamente a essas pessoas se eram a favor ou contra o movimento, obviamente se declarariam a favor. Quem haveria de ser contra um movimento de pessoas reconhecidamente trabalhadoras e sofredoras, a maioria delas economicamente pobre?

A simpatia era pela figura, não pela conduta. E era nela a estranheza.

A verdade é que, se excluirmos a simpatia de classe, racionalmente seria impossível de se apoiar um movimento assim.

Os caminhoneiros não só cruzaram os braços como forçaram os outros a também fazê-lo, querendo ou não querendo. Alguns simpatizantes diziam, com alguma euforia e até mesmo orgulho, que os caminhoneiros deixavam passar quem estivesse transportando alguma coisa "importante" ou "urgente", como medicamentos, material hospitalar etc..

Será que é atribuição, dever ou direito dos caminhoneiros dizer o que é "importante" ou "urgente", controlando o ir e vir da sociedade?

Há muitos aspectos a se analisar, mas o que sobressaiu para mim foi o fato de que a população julgava justa a pretensão de ver diminuído o preço do diesel. Esperavam até mesmo que os caminhoneiros passassem a lutar pela redução do preço da gasolina.

É evidente que isso jamais iria acontecer e alguns tolos ainda apoiavam o pleito dos amotinados, não percebendo que todos nós teríamos que arcar com o custo desse diesel que os caminhoneiros não iriam pagar. Não deu outra. E saíram todos com o rabo entre as pernas, como se nada tivesse ocorrido, como se não tivessem nunca apoiado aquele absurdo. "Esquece isso aí!".

Muitas pessoas de bandeira liberal comemoraram a greve dos caminhoneiros dizendo que era uma luta pela liberdade, contra os impostos, contra o poder do Estado, que era uma causa nobre, quando, na verdade, só queriam um benefício particular pago por toda a sociedade.

Respeitados os valores – que nem chegam a ser tão diferentes, afinal, apesar de pulverizados – não há diferença substancial entre a pretensão dos caminhoneiros em ter um benefício e aquelas empresas "campeãs nacionais", que se ergueram às custas do povo, no Robin Hood às avessas que se instituiu, tirando dos pobres para dar aos ricos.

Os caminhoneiros não lutaram por igualdade e nem para o benefício de todos, mas para serem os novos Eikes Batista do novo Brasil, buscando benefícios pessoais (redução do preço do diesel) pagos com dinheiro público. Sim, pois a Petrobrás, totalmente destruída, não pode mais ser usada para fazer politicagem, ao menos não no nível que antes se fazia. A União aceitou cobrir o rombo da empresa em decorrência da greve. E de onde vem o dinheiro da União?

O governo, acuado, de joelhos, aceitou a reivindicação do diesel, penalizando o resto da população. Reviu ainda a tal tabela do frete, que nem deveria existir, estivéssemos nós em um país com o mínimo de liberdade econômica.

Compartilhar:

Facebook
Twitter
LinkedIn
Email

Deixe um comentário

Você pode optar por ficar anônimo, usar um apelido ou se identificar. Participe! Seus comentários poderão ser importantes para outros participantes interessados no mesmo tema. Todos os comentários serão bem-vindos, mas reservamo-nos o direito de excluir eventuais mensagens com linguagem inadequada ou ofensiva, caluniosa, bem como conteúdo meramente comercial. Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

JORNALISTA

Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

Categorias

Veja Também:

Fale com o Blog!