… vou montar uma Corretora e ficar rico!
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Quase todos os dias, pela nossa atuação, acabamos conversando por alguns minutos com corretores de seguros e corretores de planos e seguros de saúde. Tenho percebido que em quase todas as conversas, acabamos entrando sempre no mesmo tema, que é o desejo do Corretor em montar sua própria Corretora.
Como advogado, meu primeiro impulso poderia ser o de incentivar, mas percebo que o incentivo que acabo fazendo é no sentido oposto e quero neste espaço repartir a nossa visão sobre o tema.
Há um dito popular que diz que a grama do vizinho é sempre mais verde, e infelizmente quando o corretor deixa suas atribuições para ser empresário e proprietário de uma Corretora é que ele percebe que a grama que abandonou era mais verde.
O Brasil é um país como qualquer outro, com acertos, erros, problemas e questões sociais e culturais e temos um modelo de Governo altamente dispendioso com excesso de tributos para manter a máquina administrativa. Nossas Leis são totalmente desfavoráveis ao empreendedor e neste ponto temos que adentrar fundo nesta questão de partir para a independência, ou seguir ao lado de uma Corretora já estruturada.
A realidade do empreendedorismo brasileiro é que sobram oportunidades em todos os segmentos, inclusive para novas Corretoras, mas por traz desta oportunidade não basta ser bom vendedor, você terá que ser principalmente um grande Gestor e aí reside o grande problema.
A probabilidade de a sua Corretora seguir aberta após um ano é ínfima, e segundo fontes do SEBRAE em menos de dois anos nem 50% das novas empresas resistem, e há centenas de motivos para isso, mas o que mais insisto é a vocação!!!
Ser vendedor é um dom natural que somente algumas pessoas o têm, e um bom vendedor não é necessariamente um bom Gestor de Negócios. Ao migrar sua vida de Corretor para Empresário, seu tempo será tomado com atividades de Gestão e fatalmente sua carteira de clientes não receberá mais sua atenção como outrora, justamente porque agora você estará atribulado com Aluguel, Funcionários, Impostos, Parcerias e outras atividades.
Vejo alguns Corretores que trabalham em regime de associação com grandes Corretoras e enxergo neles o modelo ideal, inclusive é o modelo que adotamos em nosso escritório de Advocacia, onde os advogados são associados e com isso gastam seu tempo unicamente com sua vocação e se desvinculam das obrigações de gestão do Escritório.
Aparentemente muitos enxergam que o Empreendedor tem maiores lucros, mas a verdade é que este acaba sempre exaurido pela carga tributária e pelas despesas para manutenção, sem falar do trabalho exaustivo de estar sempre buscando novos parceiros e oportunidades.
A opção por empreender e ter sua própria corretora deve estar baseada na vocação e não necessariamente na falsa suposição de que os resultados financeiros serão melhores; até porque, na prática – e aí falo com base em nossa experiência diária – iniciar uma Corretora é pedir para perder anos e anos de trabalho, diminuir seu rendimento mensal, e eventualmente se ver envolto em dívidas insuportáveis.
Se em sua nova Corretora nos dez primeiros Contratos que vender tiver 50% de Ações na Justiça, que é um número que já encontramos em algumas Corretoras mal estruturadas, fatalmente você se verá condenado em muitos processos e até seu patrimônio pessoal correrá risco de ser penhorado para pagar despesas relativas a Contratos que por algum motivo prejudicaram o Consumidor.
Obviamente, você poderá ter sorte e não ter processos, mas, por outro lado, você poderá ser surpreendido com uma carga tributária altíssima e contratar empregados que causem prejuízo ao negócio, mas tudo é uma questão de Sorte, e a Sorte não caminha ao lado daqueles que estão despreparados.
Proporcionalmente ao que investem as Corretoras em Marketing, Treinamento, Instalações, Pessoal Administrativo, Mobiliário, Telefonia, Internet e outros, o retorno do capital em Corretoras é pífio. Costumo dizer que, considerando o volume de dinheiro investido, uma pequena lanchonete ou uma banca de jornal ainda dá mais lucro que uma Corretora.
Não se deve pensar que é algo impossível, mas se não for altamente planejado e não houver no mínimo um caixa suficiente para dois anos, com certeza sua vida profissional e pessoal se tornará um verdadeiro martírio.
Quando se é um Corretor associado, quando você não vende você somente deixa de ganhar. Quando se é uma Corretora, quando não há vendas, os gastos permanecem e você tem que literalmente pôr dinheiro do bolso para bancar as despesas, ou seja, além de não ganhar você perde o que já conquistou.
Qualquer corretor sabe que há períodos do ano em que há declínio nas vendas, e são justamente nestes períodos de entre safra que normalmente fazem o lucro de duros meses de trabalho serem usados para pagar custos fixos.
Aos que sentem a vocação latente para o Empreendedorismo vai aí também o meu incentivo: “É possível ter Sucesso, Sim”, mas é imprescindível que tenham uma estruturação perfeita, com plano de negócios, avaliação contábil, jurídica e tributária, e um mercado de atuação que lhe garanta o retorno de vendas esperado.
Considerando que tudo muda a todo mês e o Mercado de Plano de Saúde é altamente competitivo e ágil, manter-se neste mercado será uma tarefa de Hércules. Por outro lado, deixar os custos fixos e as responsabilidades maiores sobre a Corretora e concentrar-se naquilo que um Corretor faz melhor que é vender, pode ser sem dúvida alguma uma “Jogada de Mestre”.
Na vida a cada escolha renunciamos a algo e ser empreendedor é o ponto de partida para renunciar a vida de Corretor e passar a ser um Gestor de Negócios como outro qualquer, com alegrias, mas sem dúvida com a tarefa árdua de interagir com uma carga tributária tão feroz, que a chamamos de Leão da Receita Federal, e com todas as dificuldades inerentes a abrir uma empresa como outra qualquer.
Se sua vocação for essa, e se as vendas já não lhe trouxerem a mesma alegria do “contrato fechado”, e se você realmente tiver um Planejamento Total com uma reserva financeira gorda para no mínimo dois anos muito difíceis, quem sabe seja a sua hora(!)
Enfim, não se esqueça de que o vizinho também pode ver a sua grama como a mais verde, afinal de contas quem não quer ter resultados sem ter custos fixos ?
Alcides Correa de Souza Junior – é sócio fundador da Correa de Souza Advogados, inscrito na OAB/SP sob nº 256.791, especializado em Direito Empresarial, Digital e Eletrônico, pode ser contatado pelo email alcides@correadesouza.adv.br. (www.correadesouza.adv.br)