Por Nayara Bortolotti – advogada
O mercado de seguros é ainda muito criticado no Brasil principalmente pela burocracia necessária na hora de contratar um serviço. O processo é geralmente repleto de vários formulários, documentos, contratos e condições difíceis de serem compreendidas. Muitas vezes, essa é a grande justificativa para que as pessoas desistam de contratar um seguro, pois se na contratação o processo já é burocrático, as coisas poderiam ficar ainda mais complicadas no momento de pleitear a indenização a que se tenha direito.
Por esse motivo, o mercado de seguros buscou encontrar soluções que tornem o processo mais dinâmico e otimizado, e encontrou na tecnologia a inovação que o setor precisava. Surgem, então, as insurtechs.
Derivado da união de duas palavras em inglês – insurance (seguro) e technology (tecnologia) – o termo insurtechs diz respeito às pequenas empresas focadas no cliente das seguradoras que buscam desenvolver sistemas digitais para simplificar o processo burocrático na contratação de um seguro. A principal função das insurtechs é esta: desburocratizar o processo de contratação de seguros, simplificando contratos, diminuindo a quantidade de documentos a serem exigidos, aumentando a aderência aos seguros e simplificando a vida do consumidor.
Um dos exemplos de redução de burocracia é a isenção de taxa de cancelamento do serviço. Embora aparentemente pareça algo ruim, as insurtechs aproveitam o motivo que gerou o cancelamento para aperfeiçoar os serviços ofertados e corrigir pequenas falhas ou exageros do processo.
Além disso, essas startups proporcionam flexibilidade e praticidade para os clientes, pois poderão controlar todos os serviços contratados, tendo acesso às apólices e serviços, tudo com total autonomia e transparência.
Desde 2017, por meio da Resolução nº 359/2017, que alterou o texto do art. 4º da Resolução CNSP nº 294/2013, as seguradoras estão autorizadas a emitir de forma digital as apólices e certificados individuais. Todas essas mudanças, como a digitalização de todo o processo e isenção de taxas, estão trazendo ganhos tanto para as seguradoras quanto para os consumidores.
Os atendimentos fornecidos pelas seguradoras passam a ser mais humanizados e personalizados, enquanto os consumidores têm a segurança de que estão contratando um serviço que corresponde às suas principais necessidades. Além disso, as seguradoras podem utilizar os dados coletados – ressalva-se aqui a necessidade de observância da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) -, para auxiliar na adaptação e melhoria dos produtos ofertados, conforme o desejo dos clientes.
De acordo com um levantamento feito pela KPMG, em parceria com a Distrito, existem hoje 113 insurtechs atuando no Brasil – e o número não para de crescer. Entre 2018 e 2019, por exemplo, houve um aumento de 47% no número de insurtechs. A grande maioria está concentrada na região Sudeste (74,3%), sendo que 52% estão no estado de São Paulo. Em seguida, vêm as regiões Sul, com 17,7%; Centro-oeste, com 4,45%; Nordeste, com 2,7%; e Norte, com 0,9%.
Além disso, o levantamento mostrou que 56% das insurtechs nacionais trabalham em conjunto com as seguradoras tradicionais, adaptando e melhorando os seus serviços. Com esse crescimento, a tendência é que todo o mercado de seguros contemple as propostas das insurtechs.
Nayara Bortolotti é advogada no escritório Rücker Curi Advocacia e Consultoria Jurídica e atua na área de Seguros.