Por Filipe Colombo
Só existe uma maneira de se preparar para o futuro em sua empresa. Pensando estrategicamente! Esta deve ser uma das principais características de um CEO. Quem adquire essa capacidade consegue pensar em estratégias no longo prazo. Sei que o futuro é incerto, principalmente nos dias de hoje com mudanças cada vez mais rápidas e no país instável que vivemos. Mas, justamente por isso, o planejamento é essencial. Tentar tornar esse futuro mais claro, viável e mais a favor do negócio não é somente inteligente, é também indispensável.
Pensar estrategicamente é muito utilizado nos discursos corporativos. No entanto, observo que poucos gestores realmente o executam. Isso acontece porque exige que o gestor saia do seu lugar comum, de algo que ele domina, que é o dia a dia da organização, e enxergue a empresa pelo lado de fora. Na prática, a maioria das pessoas ainda é operacional, comportamento herdados dos nossos antepassados que viveram a Revolução Industrial. Esse movimento automatizou as fábricas, confinou trabalhadores em ambientes fechados e criou uma legião de dependentes de empregos, salários, carteira assinada, crachá e outros benefícios. Ou seja, as pessoas passaram a acreditar que a eficiência estava no trabalho e no resultado imediato do que estavam fazendo. Hoje ainda há gestores com esse pensamento. Claro que trabalhar no operacional é mais atrativo, pois você vê o resultado no curto prazo, mas geralmente essa atitude não garante a perpetuidade da empresa. Por isso, o CEO deve pensar de forma estratégica e não operacional.
Quando ele coloca essa habilidade em prática consegue traçar o seu Planejamento Estratégico, que é uma ferramenta muito importante da administração para determinar as decisões que serão tomadas pensando na longevidade da empresa. E isso não só nas grandes empresas, mas as pequenas empresas também se beneficiam quando fazem um planejamento estratégico. O problema é que ainda são poucos os pequenos empresários que adotam a estratégia.
Uma pesquisa realizada pela empresa americana Constant Contact, em 2018, com 1005 proprietários de pequenas empresas mostrou que 63% não fazem um planejamento a longo prazo, se antecedendo, no máximo, para um ano. Aí você pode falar: mas, Filipe, minha empresa é pequena, eu faço tudo aqui, não tenho tempo pra nada, estou correndo o tempo todo, como posso parar para pensar estrategicamente? Sim, eu sei disso, negócios em fases iniciais ou empresas pequenas são assim mesmo – também fomos pequenos um dia – mas eu quero que tenha em mente que se você estiver correndo tanto assim e a direção for a errada estará se distanciando ainda mais do seu objetivo a cada passo que der. Na maioria das vezes, correr sem direção é pior do que ficar parado. Existem muitas empresas que até sobrevivem e prosperam sem o planejamento estratégico, mas tenho certeza de que elas devem perder muitas oportunidades ao não o aplicar. Se você está entre essas empresas, está na hora de mudar sua atitude.
Fazer um planejamento estratégico é garantia de que tudo ocorrerá exatamente como foi previsto? Claro que não. Acidentes de percurso podem acontecer no meio do caminho e tirar a organização do trajeto ideal. Lembre-se que o planejamento não é trilho e sim trilha. O trilho é um caminho fixo, enquanto a trilha é flexível à pequenas mudanças de trajeto que porventura sejam necessárias, mas sem perder o destino em mente para nortear os próximos passos. Na Anjo, por exemplo, fazemos o planejamento estratégico com visão de 10 anos, porém a cada cinco anos o revisamos para ver se ainda faz sentido. Além disso, todos os anos realizamos os orçamentos anuais com base no planejamento estratégico. Afinal, sempre vai existir tempo de vacas gordas e vacas magras, tempo de bonança e escassez. O segredo é guardar durante a bonança para poder ser mais estratégico e passar pela escassez da forma mais saudável possível aguardando as próximas oportunidades.
Para fazer um bom planejamento estratégico é importante que o gestor saia da operação e possa enxergar a empresa por outro ângulo. Quando digo sair da operação não significa que você precisa abandonar seu cargo, mas se afastar por umas horas da agitação do dia a dia empresarial, daquele entra e sai da sua sala, daquele telefone que não para de tocar, daquelas decisões que precisam ser tomadas imediatamente (essas demandas acontecem a todo o momento) para se dedicar a isso. Eu sei que quando a empresa está começando, o fundador é o CEO, administrativo, marketing, vendas e muito mais. Mas eu sugiro que tire uns momentos na semana, ou no mês, para sair da operação e pensar estrategicamente.
Se a sua empresa tiver um funcionamento hierárquico, sugiro que inclua seus líderes e profissionais-chave no processo. Ao tornar o PE participativo, o gestor traz mais alinhamento e engajamento entre todos, aumentando as chances de que as ações ali elaboradas sejam reais e possam ser colocadas em ação.
Filipe Colombo é CEO da Anjo Tintas, indústria de tintas com mais de 30 anos no mercado. Pai de dois filhos e triatleta, empresário comanda a marca desde os 27 anos como presidente. São mais de 400 colaboradores, mais de 6.400 clientes ativos e produtos que podem ser encontrados em todos os estados brasileiros em mais de 6.200 lojas. Formado em Administração com ênfase em Marketing e com MBA cursado nos EUA, China e Dubai, o CEO está oficialmente trabalhando na empresa há 16 anos, mas pode dizer que frequenta a Anjo desde criança, já que seu pai, Beto Colombo, a fundou inicialmente nos fundos da casa em que viviam.