Pesquisa a ser lançada no próximo dia 9 em São Paulo ajuda a entender porque as intenções de votos em Dilma Rousseff duplicaram as de seu perseguidor mais imediato, o senador tucano Aécio Neves.
Pela lógica político-eleitoral, a presidenta não poderia ter tantos votos (37%) quantos tinha na mesma altura de 2010 (36%), segundo o Datafolha, rigorosamente empatada com José Serra).
Primeiro porque 2010 foi, economicamente, o ano mais brilhante do século, com crescimento de 7,5%. Neste ano, a situação é no mínimo nebulosa, com crescimento reconhecidamente pífio.
Além disso, Dilma perdeu fatias do imenso bloco de apoio de que gozava há quatro anos.
Não se sabe bem quantos votos agregavam, mas que ajudavam a encher o cesto, ajudavam. Perdeu Eduardo Campos e o PSB.
Perdeu a fatia do PDT liderada por Paulo Pereira da Silva, que levou seu território sindical, a Força Sindical. Perdeu o PSC, que hoje tem candidato próprio, o pastor protestante Everaldo, que atinge nada desprezíveis 3%, número razoável para um "nanico".
Sofre, ainda, a hesitação de setores do PMDB e do PR, sem falar no "volta, Lula", que deve, em tese, inibir a declaração de voto em Dilma.
Por fim, a rua, que, em 2010, só fervia nos centros comerciais, ferveu no asfalto em junho de 2013, revelando descontentamentos que estavam soterrados sob a tonelada de apatia que caracteriza o brasileiro. Tudo somado, o fato de Dilma manter-se praticamente no mesmo patamar que tinha em maio de 2010 parece inexplicável.
Aí é que entra a pesquisa a ser divulgada dia 9. Trata-se do Índice da Vida Melhor, elaborada pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), o clubão das 34 economias mais ricas do mundo, do qual o Brasil é apenas observador porque não quer ser membro pleno.
O levantamento vai mostrar que os brasileiros estão mais satisfeitos com suas vidas do que a média do OCDE. Uma esmagadora maioria declara ter mais experiências positivas em um dia normal (sentimentos de sossego, orgulho das realizações, proveito etc.) do que negativas (dor, preocupação, tristeza).
A satisfação não basta, no entanto, para ocultar as mazelas: como em todos os levantamentos internacionais, é feita a foto do Brasil em itens como educação e saúde, entre outros.
Fica a sensação de que é correta a análise da presidenta, feita após o levantamento de junho: o brasileiro está satisfeito dentro de casa (aumetno de renda, quase pleno emprego etc.), mas, cada vez que abre a porta da rua, descobre motivos de insatisfação, na educação, na saúde, no transporte, no trânsito, na segurança e em um extenso etc.
Tudo leva a crer que essa satisfação íntima é parcialmente canalizada, nas pesquisas de intenção de voto, para a candidata do governo.
Falta à oposição capturar duas coisas: transmitir a confiança de que, dentro de casa as coisas continuarão bem e, fora dela, vão melhorar. Se não o fizer, Dilma pulará para os quase 47% com que fechou o primeiro turno em 2010.