O projeto Idoso Bem Cuidado, da ANS

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A ANS anunciou um novo modelo para atendimento à saúde de idosos na rede privada. Trata-se do projeto “Idoso bem cuidado”, que, a princípio tem como objetivo principal centralizar o atendimento aos idosos, concentrando-os em profissionais específicos.

Com toda razão, argumenta-se que os idosos, que mais demandam serviços de saúde, por óbvio, acabam passando por vários especialistas e utilizando várias medicações, sem que haja uma visão de conjunto.

De fato, como diagnosticou-se ao se propor esse projeto, os planos acabaram se tornando uma cessão de mão de obra de especialistas em determinado assunto individual, sem que haja um ponto de vista sistêmico da saúde do paciente.

A ideia de acabar com “um exame aqui e outro acolá” parece, de fato, brilhante. Em reportagem para a Folha de S. Paulo de 24/05/2016, Martha Oliveira, diretora de desenvolvimento setorial da ANS, declarou: “É uma oportunidade para monitorar a saúde e não a doença”.

O projeto, inspirado em modelos de outros países, ainda prevê escalas de desempenho tanto para a remuneração do médico quanto para o valor do pagamento por parte do segurado.
A ideia parece realmente muito bem-vinda, por talvez ser o primeiro projeto concreto a apontar para uma mudança de mentalidade, como dito por Martha Oliveira: valorizar a saúde, não a doença.

Qualquer pessoa que tenha idoso na família e que se trate por meio de plano de saúde sabe que essa é a realidade: a atividade do plano se resume à intermediação entre pacientes e médicos, com respectivos tratamentos, de forma individualizada, sem um contato centralizado, por assim dizer.

Por isso, temos os inúmeros exames feitos em diversos especialistas, que aplicam variadas medicações, sem que um profissional tenha necessariamente conhecimento da existência do tratamento do outro, ou do tratamento prescrito pelo outro.

Em um caso particular, tive a oportunidade de acompanhar que médicos se reuniam para discutir a situação de uma paciente específica, que possuía uma doença autoimune desconhecida. Se reuniam para coletar informações e até para tentarem aprender sobre a moléstia. Só que isso é feito em um caso em um milhão.

Nos demais, há pouquíssimo ou absolutamente nenhum contato entre profissionais, senão quando o paciente está internado em um hospital.

Por isso, a ideia de concentrar em um profissional ou, talvez, em uma equipe de profissionais essa espécie de intermediação vem muito a calhar para evitar questões que não são propriamente erro médico, mas resultado de conjunções de esforços para sentidos opostos.

Há de se observar, porém, que a proposta inverte completamente o que já se sedimentou no ideário nacional a esse respeito. A princípio, talvez até os pacientes estranhem essas novidades, se forem mesmo implementadas.

Os planos de saúde certamente terão dificuldades para se adaptarem, formarem as equipes e contratarem os profissionais adequados para a área, que certamente deverão ser pessoas com conhecimento e experiência, demandando, pois, remuneração compatível.

Os próprios profissionais de saúde poderão opor uma certa resistência a essa nova filosofia, pelo costume no trabalho da forma atual. A experiência também ensina que a remuneração por desempenho, apesar de ser uma das melhores formas de se estimular, buscar e obter resultados, sofre muita resistência, como se observou, recentemente, com a classe dos professores do ensino público.

Por outro lado, torna-se bastante visível o desapego à saúde pública, pelo SUS. Já comentei por diversas vezes que esse sistema é mesmo impossível de dar certo, mas a diferença entre as diretrizes estipuladas para a saúde pública e a saúde privada é gritante. Absolutamente impossível de se implementar algo assim na saúde pública.

Quer dizer, é possível, do ponto de vista formal, pela “canetada” que cria a lei e a obrigação. Mas torna isso efetivo, com a contrapartida do poder público em compatibilizar a remuneração das entidades de saúde para prover algo assim é absolutamente irreal. Sempre foi e se torna de distância mais abissal conforme se aprofunda a crise econômica.

Enfim, a novidade é interessante e pode refletir de forma muito positiva se conseguir ser implementada e tiver a participação de todos. Mas não seria nenhuma surpresa morrer no campo das boas intenções…
(Dr. Bruno Barchi Muniz, que escreve sempre às sextas-ferias, tem sua coluna publicada, excepcionalmente, nesta segunda-feira)

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JORNALISTA

Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

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