O multiverso e os salários do STF

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Você sabe o que é multiverso? Na realidade, ninguém sabe muito bem, mas, em suma, há um conjunto de teorias que contradizem a noção de que há somente o universo, mas que este seria apenas uma "bolha" junto com outras – outros universos – flutuando em um espaço maior, formando, pois, o multiverso.

Não há sequer princípio de provas da existência de multiverso, mas, mesmo assim, foram criadas inúmeras histórias de ficção científica abordando os multiversos. As mais famosas talvez sejam aquelas que tratam de universos paralelos, segundo as quais há diversas realidades coexistindo ao mesmo tempo, sendo que em cada um dos universos a situação se desenrola em uma possibilidade diferente.

Por exemplo, neste universo sou advogado. Em um universo paralelo sou cineasta, em outro sou marceneiro e assim por diante.

E qual é o motivo de eu estar falando toda essa abobrinha?

Porque, se os universos paralelos são reais, parece que houve uma quebra da separação entre eles no Brasil e, nessa nossa realidade, vieram parar autoridades que estavam em outro universo, onde o Brasil é um país riquíssimo e próspero.

Naquela realidade, era considerado muito pouco o teto do funcionalismo público (salário dos ministros do STF) em cerca de R$ 33 mil e propuseram o aumento para dignos R$ 39 mil.

Por isso, as autoridades judiciárias daquele universo mandaram ao Congresso proposta de aumento de seus próprios salários.

Para nosso azar, neste universo em que o Brasil é um país pobre, o espaço interdimensional se rasgou terrivelmente, e vieram para cá não só o judiciário, mas também os deputados e senadores que viviam no universo do Brasil próspero o rico.

Resultado: as coitadas das autoridades, achando que estavam em outro universo, aprovaram a medida e, aqui, os pobres brasileiros, com renda média de R$ 1.268,00 (dados de 2017) serão obrigados a pagar salários mais de 30 vezes o da média nacional para as autoridades do topo da linha, em efeito cascata para todo o resto do funcionalismo público, causando um aumento multibilionário.

Por causa da separação entre a elite e o povo – em uma distância tão enorme que só pode ser justificada pela separação entre dois universos distintos – o povo pobre mais uma vez – e cada vez mais – se torna o alicerce dos caprichos de uma coletividade não submetida a ninguém, com o direito de definir o quanto quer ganhar, para os outros pagarem, mesmo que seja o mais completo descompasso com a nossa realidade.

O que transcende qualquer universo é a capacidade de encontrar justificativas: a falta de reajuste por três ou quatro anos, mesmo com um salário altíssimo para os padrões nacionais, e enquanto outros profissionais mal remunerados, como os servidores públicos da saúde, ficam dez anos sem reajuste, sem que ninguém se sensibilize com isso.

Em outra justificativa negociada, revoga-se o "auxílio moradia", algo que nunca deveria sequer ter existido, mas que é usado como moeda de troca para favores oficiais.

Mesmo nos mais diversos universos deve haver corrupção no Brasil. Mas, aqui, é o único em que sabemos que os réus, contra todo interesse público e encarando a miséria de toda a população, usam de seu poder para dar mais dinheiro àqueles que os julgarão.

Em qualquer universo isso deve parecer como uma espécie de compra de vantagens.

Enfim, quisera eu estar em um universo paralelo.

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Emmanuel Ramos de Castro
Amante da literatura, poesia, arte, música, filosofia, política, mitologia, filologia, astronomia e espiritualidade.

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