Tirem os bebês reborn da sala: os adultos vão conversar

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Por Bruno Barchi Muniz | LBM Advogados

Certa vez eu falava com uma pessoa sobre coisas da vida e ela me disse algo óbvio, embora não totalmente perceptível, um comentário digno daqueles pontos que só os bons cronistas fazem: “já viu como são os “loucos” que mandam na casa? Ninguém quer se indispor com eles e acabam aceitando o que eles impõem”.

Como hoje em dia tudo precisa ser excessivamente explicado – e esse é o tema do artigo – a palavra “louco”, no contexto, não diz respeito aos pobres coitados que padecem das tristes doenças mentais, mas se refere àqueles que agem mais agressiva ou incisivamente, arrumam confusão, são mais ousados, mais excêntricos, mais impetuosos.

Realmente, eles mandam nos outros.

Bem, e aqui estamos, com o caso das pessoas que tratam bebês reborn como crianças verdadeiras, exigindo licença maternidade para cuidar dos… hm… “pequenos?”, tratamento médico por pediatra, querem usar filas preferenciais etc.

Tenho sérias dúvidas se Pigmalião ficaria feliz ao ver isso. Com toda certeza hesitaria. Talvez ficasse horrorizado.

A origem desses brinquedos aparentemente é o colecionismo e o uso terapêutico para pessoas que padecem de enfermidades mentais.

Mas, como todos parecem estar cientes, os “loucos” descobriram esses objetos e geraram uma enorme comoção.

Aliás, a comoção é tão grande a ponto de parecer que temos “pais” de bebês reborn em todos os prédios da cidade. Custo a acreditar nisso, imaginando ser algo muito mais pontual – uma verdadeira raridade de se encontrar um sujeito que seja o tal “louco”.

Só que, como dito no início, é o “louco” quem manda na família e, ao que parece, também na sociedade.

Mesmo que sejam poucas pessoas fazendo essa “loucura”, o barulho é muito grande, encontra ecos por todos os lados e só se fala nisso, ainda que em tom jocoso ou incrédulo.

Só que os “loucos” geram uma nova subclasse, que podemos chamar, talvez, de “louco ao quadrado”, que são aquelas pessoas que não são agressivas, incisivas, excêntricas ou impetuosas como os “loucos originais”, mas que, no meu modestíssimo entender, estão mais próximas da psicose do que a turma do bebê reborn.

Para que o leitor perceba como minha vida não é fácil, diariamente recebo inúmeros informativos de teses e novos estudos jurídicos, opiniões e decisões de tribunais, enfim, coisas da vida forense.

E, nos últimos 15 ou 20 dias eu não paro de receber múltiplos artigos explicando, de forma pretensamente científica – com sumário, formatação e notas de rodapé –, o motivo de os bebês reborn não serem seres humanos ou o porquê de eles não possuírem direitos.

Tenho dificuldade de me habituar ao fato de que vivemos na era em que é necessário explicar que a grama é verde, mas é o absurdo dos absurdos alguém achar que esses temas são dignos de explicação. Pior ainda são editores que acham que isso é digno de publicação, ainda mais em destaque.

Na verdade, esses últimos ainda podem explicar seus feitos querendo aproveitar a viralização. É indigno, mas é compreensível.

Enfim, o mais chocante é que os “loucos ao quadrado”, esses sim, não percebem o que estão fazendo, tentando levar a sério uma situação a ser tratada por meio de piada, emprestando aspectos pomposos que somente poderiam ser usados em algum tipo de esquete também cômico.

Não há no Brasil estudante universitário que não julgue que a sua ciência de estudo explique o mundo, seja ela o Direito, Medicina, Sociologia, Biologia, Geografia ou qualquer outra.

Então, não é de estranhar que o pessoal do Direito queira dar empoladas e afetadas explicações sobre o caso, acontecendo o mesmo com os profissionais das demais áreas.

Essas ciências aspiram abranger 100% da realidade, o que contradiz, por si só, o caráter de ciência.

Isso é feito nos casos mais bizarros, como acima visto, e também em terrenos mais cinzentos, alimentados pelas altas autoridades do nosso Judiciário, que fazem o que bem entendem e para azar da realidade, se ficar contrariada.

Dizia Nietzsche: “quem não sabe desprezar não sabe respeitar”.

Se não se sabe o que deve ser desprezado da sua própria análise científica, ela não merece nenhum respeito. Não é por acaso que quanto mais os juristas, inclusive no Judiciário, se intrometem em tudo, menos respeitados e respeitáveis passam a ser.

São todos “loucos ao quadrado”.

Bruno Barchi Munizé advogado, graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Católica de Santos, Pós-Graduado em Direito Tributário e Processual Tributário pela Escola Paulista de Direito (EPD), membro da Associação dos Advogados de São Paulo. É sócio-fundador do escritório Losinskas, Barchi Muniz Advogados Associados – www.lbmadvogados.com.br – Dr. Bruno escreve para o Blog do Corretor, sempre às sextas-feiras.

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